Isaías 5.1-7

Isaías 5.1-7

Inspirado pela imagem do dossel matrimonial sob o qual o Senhor renova Sua aliança amorosa com Seu povo (Isaías 4.5-6), ouve-se agora uma canção que fala do amor do Amado por Sua videira (Isaías 5.1). O tema da videira já havia sido introduzido em Isaías 3.14, como imagem para o povo de Deus. 

A canção começa enaltecendo os cuidados com que a videira é tratada (Isaías 5.2). E convoca os “moradores de Jerusalém e os judaítas” a darem um veredito sobre o impasse em que a situação se encontra (5.3). “Que mais pode ser feito com a minha videira, que eu ainda não tenha feito?” (5.4). Todo o bem possível foi feito. Agora é esperar os frutos. E aí vem a surpresa. Em vez de uvas boas, uvas ruins, imprestáveis.

Face a isso, o vinhateiro toma uma decisão e a anuncia. Vai deixá-la à própria sorte. O resultado é previsto (5.5-6). Aqui precisamos estar atentos. O controle divino sobre a história humana é constantemente reafirmado na Bíblia. Mas isso não significa necessariamente ação direta, sem mediações. O mais normal é que Deus vai permitindo espaços de atuação aos diversos protagonistas, e que isso os responsabiliza por suas decisões e seus atos. Isso é parte do projeto pedagógico de Deus para com toda a Sua criação. E mesmo assim, a linguagem usada afirma a grande verdade do senhorio de Deus sobre a Sua criação. Quem diz que “Deus está no controle” está dizendo uma verdade, mesmo que a própria pessoa muitas vezes não perceba bem o que isso significa, e possa inclusive perceber mal a direção dos movimentos divinos nos processos humanos.

Os moradores de Jerusalém e os judaítas, convocados para dar um veredito sobre o que está se passando com a videira, percebem que é deles próprios que a canção fala. “A videira do Senhor de todos os seres é a casa de Israel, os judaítas são Sua planta querida” (5.7). E que o motivo da canção é a decepção, a não-correspondência por parte do amado, expressa no jeito com que trata a própria videira da qual faz parte.

“Ele espera o direito, e vejam: derramamento de sangue! Justiça, e vejam: gritos de dor” (5.7). A importância desse verso é realçada, em hebraico, pelos sons parecidos nas duas linhas. Deus espera mishpát, e o que se vê é mispáh. Deus espera tsedaqá, e o que se vê é tseaqá. Culto, orações, não contam quando as mãos erguidas em oração estão cheias de sangue. Para que o culto seja a bênção que deve ser, deve ser acompanhado pelo direito nas relações sociais. Só a justiça nas relações humanas pode fazer com que os gritos de louvor não sejam ouvidos como os gritos de dor dos pobres cujo rosto é moído pela ganância e impiedade dos que se elevam indevidamente. Direito e justiça são fundamentos do universo (Salmos 89.14). O povo de Deus, por isso mesmo, deveria tratá-los como valores fundamentais.

Dia 15 – Ano 2