Isaías 3 — 4

Isaías 3 — 4

A percepção da insolência contra Deus e Sua criação retratada em Isaías 2.6-22, leva a uma exclamação final que tem sido interpretada de várias maneiras. Melhor lê-la como uma advertência aos que se engrandecem e com isso diminuem os outros: “Não toquem nos humanos. São portadores do Sopro. Como pensar neles devidamente?” (Isaías 2.22). Como pensar o ser humano? Essa é uma questão fundamental na Bíblia. São portadores do Sopro, da neshamá divina que faz deles criaturas singulares geradas no coração de Deus. Por isso, tocar num deles é tocar no próprio Deus. Por isso uma situação em que “o ser humano é diminuído, as pessoas aviltadas” (2.9) é tão fortemente repudiada pelo texto bíblico.

Isaías 3.1-26 é uma longa passagem com foco no julgamento de Judá e Jerusalém, não por último por causa da situação descrita no capítulo anterior. O anúncio: “Jerusalém está abatida. Judá caiu”. A razão: “Suas palavras e seus atos são contra o Senhor” (3.8). “E como Sodoma, ainda se gabam dos seus pecados, nem tentam ocultá-los. Ai de suas almas! Pois estão fazendo mal contra si próprios” (3.9).

O lamento solidário do profeta segue: “Meu povo! Os que te guiam te desencaminham” (3.12). Deus entra em juízo contra a elite do poder e do dinheiro, mashên u-mashená, “esteio e sustentação” da nação e do povo. O veredito: “Vocês destruíram a videira. O que foi roubado dos pobres está na casa de vocês” (3.14). “O que há com vocês? Esmagam o meu povo, moem o rosto dos pobres” (3.15). Israel é a “videira” de Deus, como lemos em Isaías 5.1-7. A vinha que Ele “trouxe do Egito” e plantou com muito amor na terra prometida (Salmos 80.8-9). E que agora está exposta às intempéries por causa da altivez dos seus encarregados e do descaso com que a tratam.

Isaías 3.16-26 faz um recorte especialmente eloquente da altivez da elite de Judá e Jerusalém. Eram tempos de grande prosperidade material. Inversamente proporcional, aparentemente, à pobreza espiritual e humana de que os ricos e prósperos são acusados nestes capítulos. Essa prosperidade se reflete no comportamento ensoberbecido das mulheres da alta sociedade de Jerusalém (3.16). A denúncia profética contém uma longa lista de itens de vestuário e cosmética despudoradamente ostentados e exibidos pelas ruas de Jerusalém (3.18-23). E prevê um tempo mais adiante em que as coisas se inverterão (3.24-26) e quem agora é elevado será humilhado e exilado.

Essa inversão futura da situação será também tempo de renovação. “Naqueles dias, um renovo do Senhor mostrará verdadeira beleza e brilho” (4.2). “O que sobrar em Sião, o que restar em Jerusalém, será chamado santo” (4.3). O Espírito do direito e o Espírito da purificação “lavarão a imundície das filhas de Sião e removerão de Jerusalém as culpas de sangue” que pesam sobre ela (4.4). Jerusalém voltará a ser como o povo do êxodo e da caminhada pelo deserto, coberta de dia por uma nuvem e de noite por um brilho de fogo (4.5). A glória luminosa de Sião será como uma tenda protetora, como um dossel matrimonial sob o qual o Senhor renovará Sua aliança amorosa com Seu povo (4.5-6).

Dia 14 – Ano 2