Juízes 2 é introduzido com a presença do “anjo do Senhor” (2.1,4) que vem aos israelitas para expressar a preocupação pelos perigos que rondam o povo. A fala do anjo começa em tom indicativo, resumindo a história passada: “Fiz vocês subirem do Egito, e os trouxe a esta terra que havia prometido aos seus antepassados” (v.1). A seguir, ele rememora os termos da relação entre Deus e o povo: “Como eu havia dito, não quebrarei minha aliança com vocês, nunca. Mas vocês, não façam aliança com os moradores desta terra” (v.1-2). E conclui com uma repreensão e um chamado à consciência: “Contudo, vocês não obedeceram … Que é isso?” (v.2).
A presença de anjos de Deus em momentos-chave da história e da narrativa nem sempre tem sido percebida e valorizada de modo apropriado. Talvez porque no nosso momento histórico se tenha perdido de vista essa presença, e talvez mesmo sua existência. Para os textos bíblicos ela é tão evidente que nem passa pela cabeça discuti-la. Os anjos são pressupostos, fazem parte da trama profunda do universo criado por Deus. Eles estão diretamente conectados ao Criador. Tão diretamente que muitas vezes os textos bíblicos nem distinguem quem está falando. Tudo que o anjo fala aqui em Juízes 2.1-3, em outras passagens é dito pelo próprio Deus.
É significativo que os textos bíblicos não parecem ter problema algum com isso. De fato, isso sequer é tematizado, simplesmente é parte do jeito que Deus faz as coisas. Quando o anjo concluiu sua fala, “o povo chorou em alta voz” (2.4), acatando tanto a forma de presença de Deus com eles nesse momento, como suas palavras.
O que isso quer dizer para nós, hoje? Talvez aqui se aplique bem a palavra de Deuteronômio 29.29: “O que está oculto pertence ao Senhor, nosso Deus. As reveladas, a nós e aos nossos filhos, para todo o sempre”. O que está revelado é a presença dos anjos e sua conexão profunda com o plano de Deus para o mundo e a humanidade. O que permanece oculto, talvez no momento seja para nós insondável, excedendo nosso entendimento.
Dia 207 – Ano 1