2 Reis 13.1-4

2 Reis 13.1-4

O longo reinado de Joás, o príncipe que foi salvo da morte e criado escondido no templo até os 7 anos de idade, terminou de forma lamentável. Depois de 41 anos de governo, ele foi assassinado numa conspiração que partiu de dentro do próprio palácio real. Seu filho Amazias o sucede. Isso está contado em 2 Reis 12. Em 2 Reis 13, o texto volta a narrar a sequência dos governos tanto no reino de Judá como no de Israel.

No ano 23 do reinado de Joás em Judá, Jeoacaz, filho de Jeú, começa o seu reinado de 17 anos em Israel. Jeoacaz “fez o que era mau diante dos olhos do Senhor”. Andou nos pecados de Jeroboão, que fez Israel pecar (2 Reis 13.2). Agora um elemento novo é introduzido na narrativa, que mostra o progressivo agravamento da condição do povo de Deus. “A ira do Senhor se acendeu contra Israel”, sinalizando a contrariedade que a situação de Israel ia suscitando. E Deus os entregou nas mãos dos sírios. A reação de Jeoacaz é bem vista: ele procura “apaziguar o rosto do Senhor” (13.4).

É importante refletir um pouco sobre a linguagem aqui usada para descrever as relações entre Deus e o Seu povo. Faz parte do processo pedagógico divino ir se adaptando às condições culturais e religiosas do povo em seu momento histórico. Por muito tempo, essas relações foram percebidas e vivenciadas dentro de uma moldura em que noções como as de honra e desonra, culpa e expiação, pureza e impureza, ira e apaziguamento, eram centrais. Ao redor delas foi se constituindo o sistema sacrificial que caracteriza a expressão religiosa formal no antigo Israel. Os textos bíblicos refletem esse contexto. A Palavra de Deus se adapta a ele e, desde o seu interior, busca um aprofundamento espiritual em que noções não tão adequadas vão sendo transformadas com o tempo e com a vivência do povo com Deus. Mas isso tem que vir do coração, em processos de auto-determinação voluntária. O que leva tempo. 

Quando os textos bíblicos falam em “se acender a ira de Deus”, temos que entender isso como uma expressão historicamente condicionada, e ao mesmo tempo buscar o seu sentido profundo. A “ira” de Deus é expressão da dor do amor que percebe que a pessoa amada está se perdendo do propósito maior de sua existência. E com isso colocando em perigo não só a si própria, mas o universo inteiro, que é fruto desse mesmo amor e por ele é sustentado. “Ira” implica uma relação assimétrica, um superior se ira contra um inferior. Talvez a melhor tradução é “indignação”. O correlato da “ira” ou indignação é o apaziguamento. Ambos são plasticamente descritos na língua hebraica com referência ao rosto. A ira é o movimento indignado do nariz. “Apaziguar” a ira é devolver à pessoa a honra que lhe foi roubada por atos ofensivos. É “devolver o rosto” à pessoa. E isso geralmente é expresso na forma de penitência e de sacrifícios apaziguadores. Este é o caso aqui em 2 Reis 13.3-4, quando se diz que a ira de Deus se acendeu contra Israel, e que o rei de Israel, como representante do povo, busca apaziguar o rosto divino. E “o Senhor o ouviu”, ouviu suas súplicas. “Pois Ele estava vendo a opressão de Israel, pois o rei da Síria os oprimia”.

Dia 254 – Ano 1