2 Reis 20.12 — 21.9

2 Reis 20.12 — 21.9

A notícia da doença e do restabelecimento de Ezequias, rei de Judá, correu. Não muito tempo depois, chega a Jerusalém uma comitiva do reino de Babel, ou Babilônia (2 Reis 20.12). Ezequias os recebe e, talvez ainda na euforia da “nova vida” com que tinha sido agraciado, agracia os visitantes mostrando-lhes todos os seus tesouros. Isaías, o profeta, vai vê-lo depois e lhe faz perguntas. De onde são? O que queriam? O que tudo puderam ver? “Viram tudo”, responde o rei (20.15).

“E Isaías disse a Ezequias: Ouve a palavra do Senhor” (20.16). Nesta curta formulação temos uma chave para uma compreensão adequada da história política de Israel, na perspectiva bíblica. A correlação entre rei e profeta deve ser simétrica. Tanto um como o outro são ungidos de Deus. Cada um tem uma tarefa específica. O poder do rei é mais mundano, mais visível, externo. O profeta é o canalizador do poder de Deus, mediador da Palavra divina. Jerusalém é a cidade do rei, mas ela é o que é por ser “a cidade do grande Rei” (Salmos 48.2). Elogiados na narrativa bíblica são os reis que honram a palavra profética, mesmo em detrimento pessoal, como foi com Davi. Recriminados são os reis que desprezam a palavra profética, ou mesmo a manipulam para os seus próprios interesses, como foi com Jeroboão.

A palavra do profeta ao rei foi dura. Dias virão, diz o profeta, em que tudo que há na tua casa será levado para a Babilônia, inclusive os teus filhos. A resposta do rei é inesperada e surpreendente. “Desde que enquanto eu viver eu tenha paz” (20.19). E assim termina o relato da vida de Ezequias. Quando ele morre, seu filho Manassés passa a reinar em Judá.

Manassés tinha 12 anos de idade quando subiu ao trono, e seu reinado foi o mais longo da história de Judá: 55 anos (2 Reis 21.1), um ano a mais do que todo o tempo de vida de seu pai. Ele “fez o que era mau diante dos olhos do Senhor”. E vem uma longa lista dos “males” que ele fez. Adotou os costumes dos gentios, junto com suas “abominações”. Reverteu reformas introduzidas pelo seu pai. Espalhou altares e ídolos por todo canto, e os reverenciou ele próprio. Adotou inclusive o costume de oferecer um filho em sacrifício, possivelmente para “aplacar a ira” dos deuses. Desonrou o templo de Deus em Jerusalém. E arrastou junto o povo, que ele fez pecar “pior que os pagãos” (21.9).

Como entender essa total mudança em Judá? Ezequias foi elogiado como um rei sem igual. Seu filho Manassés é descrito também como sem igual, mas para o mal. Manassés começou a reinar com 12 anos, ou seja, havia nascido já dentro dos 15 anos de bônus com que seu pai havia sido agraciado. A resposta de Ezequias à profecia de Isaías parece um dar de ombros beirando a indiferença. Desde que não seja nos meus dias, diz Ezequias. Parece que a vida a mais que ele recebeu acabou deixando-o egocêntrico. A grande amargura que ele sofreu entre o momento em que soube de sua doença terminal e o dia em que Deus o curou, é compreensível. Mas será que aqueles dias de intenso sofrimento físico, psíquico e espiritual não acabaram deixando nele marcas, que o seu tempo extra de vida se encarregou de ir mostrando? Será que o foco em sua própria vida, também compreensível naquele momento, não acabou se tornando uma característica que o levou a perder de vista os outros?

Dia 364 – Ano 1