2 Samuel 15

2 Samuel 15

A narrativa continua acompanhando Absalão, que tinha tudo para ser rei, mas acabou não sendo porque resolveu fazer o futuro com suas próprias mãos.

Depois de ter sua situação em Jerusalém normalizada, Absalão dá início a um plano para ir “roubando o coração” dos súditos de seu pai Davi (2 Samuel 15.6). Após quatro anos (v.7) tudo está pronto para o golpe de estado. É difícil imaginar que, durante todo esse tempo, o rei não tivesse percebido nada. O silêncio da narrativa a esse respeito sinaliza a fraqueza de Davi em dar conta de sua família.

O movimento consegue ampla adesão popular (v.10). O v.12 o chama de “conspiração”, golpe (v.12; a palavra qésher tem uma conotação de traição). Davi, aparentemente surpreendido, se vê obrigado a fugir de Jerusalém às pressas, acompanhado por um grupo que permanece leal a ele (v.13-18). Em meio à comoção geral (v.23), Davi ainda consegue fazer articulações. Os sacerdotes Zadoque e Abiatar, que estavam decididos a levar a arca da aliança com o grupo de Davi (v.24) são convencidos a deixa-la em Jerusalém e ficarem lá eles próprios. Os filhos deles (v.36) terão participação importante nas movimentações do grupo de Davi no exílio. E também Husai, amigo e conselheiro de Davi, fica em Jerusalém e terá participação decisiva nos acontecimentos que seguem.

Esse período conturbado da família real deve ter sido um tempo de profunda crise espiritual. Isso poderia transparecer em cenas como a que leremos no próximo capítulo, quando Davi conta com a possibilidade de que alguém que o amaldiçoa o esteja fazendo em nome do próprio Deus (2 Samuel 16.10-11). O restante de 2 Samuel, mesmo com a inclusão de um salmo (2Sm 22 = Salmos 18) e um breve discurso de despedida (23.1-7) que mostram a força espiritual de Davi, não consegue desfazer a impressão de um fim de vida marcado por ambiguidades em que ele próprio foi se emaranhando, em parte pela dificuldade de lidar com o poder.

Dia 273 – Ano 1