Deuteronômio 15

Deuteronômio 15

Deuteronômio 14 falou sobre os dízimos, e como a organização de sua aplicação poderia ajudar a minimizar um dos mais graves problemas sociais em todos os povos em todos os tempos: a pobreza. Deuteronômio 15 não perde de vista nenhum dos dois lados que, como temos insistido ao longo dessa viagem pela Bíblia, fazem juntos a perspectiva com a qual os textos bíblicos nos ensinam a ler a eles próprios e a realidade que nos cerca: realismo e esperança.

A realidade é que “nunca deixará de haver pobres na terra” (Deuteronômio 15.11). Enganar-se a esse respeito poderia dar origem a uma leitura e uma prática que provavelmente seriam logo abortadas pela própria realidade, em parte pela ilusão de quem sustentasse tal leitura e tal prática, e em parte pela ideologia dos que detêm o poder e o dinheiro e não querem abrir mão de nenhum dos dois.

Por outro lado, justamente os textos bíblicos são especialistas em esperança. Sempre de novo eles querem nos levar a imaginar, a sonhar e a trabalhar por um mundo diferente e melhor. Para a esperança vale: “que não haja pobre” (v.4). Tudo que ela puder fazer para realizar esse sonho, ou para chegar o mais perto possível disso, ela fará. Temos visto como os textos bíblicos são criativos a este respeito, mesmo que historiadores nos digam que na realidade as coisas nunca foram assim. Uma das coisas que a Bíblia quer nos ajudar a aprender é justamente não cair na cilada de contrapor a realidade à esperança. Uma precisa da outra. Mas a esperança é a mais frágil, por isso a Bíblia lhe tem especial carinho.

Um dos dispositivos criativos de que falamos é a instituição de um “ano de remissão” a cada sete anos (Deuteronômio 15.1-6). Os desbalanços e as injustiças que se instalaram nesse meio tempo poderiam ser corrigidos. Se, junto com isso, se fosse às raízes das questões e se tratasse os aspectos estruturais tanto como os aspectos de motivação pessoal (v.7-10), passos estariam sendo dados para reduzir a pobreza. Ela não só é um dos mais graves e perigosos problemas sociais, mas é incompatível com a dignidade humana como a Bíblia a ensina.

Dia 166 – Ano 1