Isaías 2.1-2a

Isaías 2.1-2a

Os livros dos Profetas incluem palavras proféticas, em sentido amplo, geralmente originadas em situações concretas do povo de Deus e de outros povos. Com o tempo elas vão perdendo essa ligação com seu contexto específico, e às vezes inclusive vão sendo revisadas e ampliadas para falarem melhor para novas situações. E finalmente viram parte de livros que reúnem profecias relacionadas a estes profetas. O jeito com que elas são organizadas em livros segue vários critérios, que nem sempre ficam bem claros para nós que os lemos hoje. E é assim que eles preservam sua força e seu encanto. Às vezes não conseguimos entender tudo, mas o que conseguimos entender já é suficiente para nos trazer sempre de novo à presença do Deus de que elas falam.

Isaías 2.1-4 é uma palavra sobre Judá e Jerusalém, dada ao profeta em uma visão (2.1). A referência temporal é bem ampla: “Nos últimos dias”. Ela aparece com frequência em textos proféticos. O hebraico be-aharit ha-iamím significa literalmente “nos dias que estão pelas costas”. Muitas culturas, como a nossa, percebem o futuro como estando “à frente”, ou seja, nos imaginamos de costas para o passado e de frente para o futuro. No mundo hebraico era normal se imaginar voltado para o passado, com o futuro “às costas”. Isso pode ser simplesmente jeitos diferentes de falar. Mas pode também indicar jeitos diferentes de pensar a vida, o tempo e seus significados. A percepção de estar localizado no presente, examinando criteriosamente o passado e tratando o futuro como não conhecido, pode ser até interessante.

Palavras sobre o futuro querem iluminar o presente, presente onde este futuro está sendo gestado. Essa perspectiva de um futuro aberto é bastante distinta da que nós estamos acostumados. Nosso jeito nos leva a “dar as costas” ao passado, deixá-lo para trás. Isso pode ter seu momento de verdade. Mas também tem seus riscos. “Virar página”, “esquecer o que passou”, pode ser aconselhável em certas situações. Mas pode também sinalizar uma fuga, deixar o passado mal resolvido (especialmente quando os irresponsáveis ou culpados somos nós próprios). Gostamos de ser “anistiados”, mesmo que a vida não nos anistie tão facilmente. O correlato desse modo de ver é estar de frente para o futuro, olhando-o com olhos bem abertos, para bem ou para mal. O passado, não entregamos a Deus, o borramos. O futuro, tomamos em nossas mãos, como se a Deus não pertencesse.

Quando os profetas falam sobre o futuro é fundamentalmente para dar esperança e a sensação de que “o futuro a Deus pertence”. Mesmo o juízo divino pode se tornar função dessa esperança. A fala sobre o futuro quer iluminar o presente. É significativo também que uma questão que para nós é tão importante, a de saber exatamente quando as coisas vão acontecer, perde relevância nesse contexto. O futuro tem seus próprios tempos, que não podem ser medidos e ajustados ao nosso presente ou passado. Nessa perspectiva, então, podemos começar a meditar nas profecias que falam do futuro.

Dia 11 – Ano 2