Isaías 29

Isaías 29

O segundo dos seis “ais” nesta parte do Livro de Isaías é dirigido contra Jerusalém (Isaías 29.1), aqui chamada de Ariel (Lareira de Deus), talvez em referência ao fogo do altar no Templo. Jerusalém será como um forno incandescente (29.6), quando a profecia se cumprir. Quando ainda era uma cidade jebusita, Davi a sitiou e conquistou. Agora o próprio Deus a atacará (29.3).

A visão parece sobrepor os tempos, o que torna difícil a interpretação. Em 29.4, Jerusalém está no chão, derrubada. 29.5 pode se referir ao exército inimigo, ou então à multidão de gente de outras nacionalidades que na época comerciavam com a cidade, e que teriam indiretamente causado a sua ruína moral (Isaías 2.6-8). O certo é que Deus, em Sua indignação, está realizando a Sua “obra estranha” (28.21) contra a cidade. Em 29.6-8, parece que somos transportados a um tempo futuro em que Ariel será palco de um ataque massivo de parte de uma “multidão de nações” contra o monte Sião (29.8). No meio tempo, Jerusalém terá sido tomada e queimada pelos babilônios (2 Reis 25.8-9).

Mais uma vez, vemos gente cambaleando, mas não de bêbadas (29.9). Perderam o norte. Um profundo sono tomou conta dos profetas e videntes (29.10), de modo que visões como as de Isaías já não são compreendidas (29.11-12). A razão é que a religião foi pouco a pouco se tornando uma formalidade, cada vez mais cheia de preceitos humanos (29.13). Mesmo os sábios e prudentes foram se alinhando com o jeito de pensar das elites (denunciado em 28.7-22). Que debochavam da pieguice das mensagens de Isaías, e se achavam espertas o suficiente para gerir a política em função dos seus interesses. É provável que o profeta esteja se referindo aqui a uma aliança secreta com os egípcios para conter o avanço dos assírios na região (29.15-16).

Nesse contexto, o profeta anuncia uma mensagem de salvação aos que no presente são desencaminhados por tais lideranças. Um dia não haverá mais “tiranos” nem “debochadores” nem os que vivem fazendo planos para o seu próprio benefício (29.20), que sem causa negam ao justo o seu direito e que têm poder para condenar quem fala contra eles (29.21). “Naquele dia” os surdos, os cegos, os humildes, os pobres, vão poder se alegrar de novo no Senhor (29.18-19). O Redentor de Abraão fará com que a Casa de Jacó possa de novo andar de cabeça erguida (29.22). A “obra estranha” do Senhor se mostrará então como o outro lado de Sua “obra própria”. E assim os que foram desencaminhados terão um novo entendimento e “santificarão o Santo de Jacó, reverenciarão o Deus de Israel” (29.23-24).

Dia 58 – Ano 2