Isaías 36.7-12

Isaías 36.7-12

Com seu exército às portas de Jerusalém, um comandante militar assírio transmite a uma delegação do governo de Judá as palavras do rei da Assíria. O porta-voz se mostra extremamente autoritário, já o rei mostra um discurso astucioso e manipulativo. Esqueçam o Egito! De lá não vem ajuda (como o próprio Isaías havia dito várias vezes). A quem pensam em recorrer, então?

Se Ezequias vier com essa de: “No Senhor nosso Deus nós confiamos!” (Isaías 36.7), não é esse o deus do qual o próprio Ezequias fez remover os santuários dos lugares altos e os altares, e decretou a Judá e a Jerusalém que só poderiam adorar diante do altar de Jerusalém? (36.7). O rei assírio mostra-se bem informado sobre questões internas do reino de Judá, seus espiões pelo jeito eram eficientes. A questão do estabelecimento do templo em Jerusalém como único santuário oficial, havia gerado muita polêmica, e não era consenso. O rei assírio aproveita para jogar os seus adversários uns contra os outros e enfraquecê-los.

Deixando a polêmica no ar, astutamente ele muda o foco sem realmente mudar o foco. Se Ezequias achar que pode enfrentar os assírios, eles lhe oferecem dois mil cavalos, se ele tiver gente que chega para montá-los (36.8). O menor dos oficiais assírios dá conta de todo o exército que Ezequias possa reunir (36.9). Ou será que Ezequias confia em que os egípcios mandarão soldados para montar estes cavalos? (36.9).

O rei assírio agora vai direto “no fígado”. Vocês acham que foi sem o Senhor que vim conquistar a terra de vocês? “O Senhor, Ele próprio me disse para subir a essa terra e destrui-la” (36.10). Os assírios estavam bem informados mesmo. Sabiam das profecias de Isaías, de suas denúncias, de suas advertências. E se colocam como aqueles que estão ali, chamados pelo próprio Deus, para cumprir estas profecias. E nisso também tinham alguma razão. A Assíria não é a vara na mão de Deus, com a qual Ele castigará o Seu povo (Isaías 10.5)?

Esse discurso foi tão desnorteante que os representantes do rei de Judá o interromperam e pediram, por favor, um pouco mais de diplomacia. Que falem em aramaico (a língua usada na diplomacia internacional da época) e não em hebraico, aos ouvidos do povo todo (36.11). Sentindo o momento favorável, o porta-voz assírio se empodera e sobe ainda mais o tom (36.12-13). Que os habitantes de Jerusalém comam suas fezes e bebam sua urina, pelo pânico e pela escassez que o cerco causará à cidade. 

A esperança, agora, é que o povo venha a se lembrar de outros discursos: “Ouçam, escutem a minha voz. Escutem com atenção as minhas palavras!” (Isaías 28.23). O Senhor “não deixará Jerusalém desamparada” (31.5). “A Assíria cairá por uma espada não humana” (31.8). A esperança é que naquele dia eles “olhem para o seu Criador”, “fixem os olhos no Santo de Israel” (17.7).  “Senhor, tem compaixão de nós, temos esperado em Ti! Seja o nosso braço …, a nossa salvação” (33.2).

Dia 69 – Ano 2