Isaías 5.24-30

Isaías 5.24-30

“Bem” e “mal” são estruturas que fazem parte da criação divina. Em Deus elas são uma unidade indissolúvel, e assim geram um imenso potencial de vida e sabedoria. O relato da queda em Gênesis 3 mostra que o ser humano teve acesso a esse mistério da criação, sem ter ainda condições de compreender e gerir suas potencialidades. O restante da narrativa bíblica pode ser lido como a história de como os humanos estão aprendendo isso, e como isso faz parte do propósito de Deus para eles.

Isaías 5.20 coloca no centro de uma série de denúncias proféticas ao povo de Deus um alerta sobre uma possibilidade muito grave: “Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem mal”. Inverter esses polos é como provocar um curto-circuito que põe em risco a criação inteira. Mas como se trata de uma das estruturas fundantes da criação, ela está como que inscrita por toda parte. Torcê-la não é fácil, pois sempre haverá resistência. A criação se defende dos que a atacam. Sem nunca esquecer que nós, humanos, somos parte tanto dos que atacam como dos que defendem.

Em Isaías 5.20, quem reverte os polos de bem e mal vem junto com os que “apresentam escuridão como luz, e luz como escuridão”. A boa criação divina, que tem a luz como fundamento, é transformada na escuridão da ilusão. E a ilusão é apresentada como luz, como boa criação divina. O conhecimento de bem e mal, que obtivemos no Éden, nos coloca a tarefa de aprender a discernir bem e mal. Para que a luz da boa criação divina não se transforme na escuridão da ilusão. Isolado do bem, é nisso que o mal se concentra, em criar um universo ilusório paralelo que se apresenta como a “verdadeira” criação divina.

“Porque rejeitaram a Instrução do Senhor de todos os seres, desprezaram a Palavra do Santo de Israel” (Isaías 5.24), justamente os antídotos para esses graves processos de perversão. “Por isso, o Senhor está tão indignado com o Seu povo” (5.25). A continuação dessa visão profética vai mostrar várias expressões da indignação de Deus com o Seu povo. Um refrão vai juntá-las todas num grande mural: “Com tudo isso, Sua indignação não diminuiu, Seu braço continua estendido” (Isaías 5.25; 9.11; 9.16; 9.20; 10.4). O braço estendido, aqui, significa ação. Ação de Deus contra o próprio povo de Deus.

A primeira dessas ações é a ação de “povos distantes” que virão e tentarão conquistar o território palestino e subjugar suas nações. Isaías 5.26-30 mostra os seus exércitos como organizados e letais. Não há identificação histórica. A advertência abrange um período de vários séculos, todo um ciclo de grandes impérios que se sucederão no oriente a partir de então. Começando com os assírios, que indiretamente já estão no pano de fundo destes primeiros capítulos do Livro de Isaías. São explicitamente mencionados pela primeira vez em Isaías 7.20, junto com os egípcios, que no Oriente Médio sempre representaram uma ameaça.

Dia 17 – Ano 2