Números 33

Números 33

Neste capítulo, temos uma espécie de diário de viagem de Moisés (Números 33.1-49). Para nós que o lemos, pode ser não mais que uma cansativa lista de estilo desinteressante e repetitivo. Partiram de lugar tal e acamparam em lugar tal, partiram de lugar tal e acamparam em lugar tal. Mas para a geração que fez este itinerário, é meia vida que está registrada ali. Com suas dores, seus sofrimentos, suas alegrias, seus amores. As memórias que se quer lembrar, e as que se gostaria de esquecer. Cada novo lugar carrega consigo uma parte da vida. 

É como se cada pessoa entre nós tivesse registrado suas próprias andanças, e pudesse depois mirá-las assim, de uma vez. O caminho todo visto de um relance, com suas voltas, seu senso de direção e, às vezes, a falta dele. Não é por nada que o caminho, na Bíblia, é uma metáfora para a vida. Jesus, mais adiante, vai dizer que a verdade tem uma relação indissolúvel com a vida, entendida como caminho (João 14.6).

A parte final do capítulo (Números 33.50-56) é um exemplo do que viemos discutindo nos últimos capítulos . Deus dá ordens a Moisés, para que ele as transmita aos israelitas (v.50-51). Eles devem tomar a terra e morar nela, pois é a eles que Deus deu essa terra (v.53). Duas vezes é dito que eles devem expulsar da terra os seus atuais ocupantes (v.52,55), e não deixá-los ficar, pois os que ficarem serão um problema (v.55). Em nenhum momento Deus manda matá-los, embora a gente possa se perguntar se a ordem poderia ser cumprida sem isso. A única “violência” explicitamente autorizada é em relação às imagens dos deuses (v.52). A sequência da narrativa irá mostrar o quão perigoso foi, para os israelitas, terem descumprido tanto uma como outra.

Em tempos de liberdade religiosa e de tolerância, como os nossos, uma atitude como essa em relação à religião dos outros pode ser vista como problemática. Aqui, em todos os casos, não se trata de convivência pacífica, mas de tomar a terra e impor nela os próprios costumes religiosos. A sequência da narrativa mostrará que também nessa questão da relação entre os povos e as religiões ainda há um longo caminho a andar (cf. João 4.19-24).

Dia 148 – Ano 1