Gênesis 47

Gênesis 47

A família escolhida já se encontra no Egito. A entrevista com o faraó, coordenada em detalhes por José (Gênesis 46.31 — 47.10) realça que eles estão no estrangeiro, e que José é só o administrador, não o rei do Egito. Séculos mais tarde, os israelitas serão dolorosamente lembrados disso.

Gênesis 47.11-12 é um resumo de toda a estada da família escolhida no Egito, no tempo de vida de José. Resumos como este, feitos pelo próprio texto bíblico, são importantes porque servem como estações, como pontes entre os diferentes momentos da narrativa. O próximo resumo importante temos em Gênesis 47.27, que acrescenta ainda que os filhos de Israel “eram férteis, e muito se multiplicaram”. Essa observação liga este trecho tanto com o passado como com o futuro. Por um lado, nos filhos de Israel se evidencia a bênção de Deus para a humanidade toda (cf. Gênesis 1.28). Por outro lado, ela já começa a preparar um dos momentos de tensão na narrativa. Num futuro para eles ainda distante, esta fecundidade e crescimento se tornarão uma ameaça para os egípcios.

Boa parte do capítulo (Gênesis 47.13-26) está dedicada a contar como as previsões de José, a partir dos sonhos do faraó, se realizaram, e como sua estratégia administrativa foi eficiente. A parte final (47.28-31) mostra Jacó no fim da vida, fazendo José jurar que levará seu corpo para ser enterrado na terra prometida, no lugar onde estão enterrados seus pais. Num momento em que parecia que os israelitas iriam se instalar definitivamente no Egito, o patriarca lembra que esta não é sua terra. Também a terra de Canaã ainda não é a terra deles. Mas lá a família já possui um pequeno lote, onde seus mortos estão sendo enterrados. Não o portentoso Egito, e sim este pequeno lote serve como um sinal de que, em meio aos caminhos e descaminhos de seu povo, Deus vai cumprindo a Sua promessa!

Dia 53 – Ano 1

Gênesis 24

Gênesis 24

Este longo capítulo é um exemplo primoroso de arte narrativa na Bíblia. E um monumento de humanidade e de espiritualidade, tudo ao mesmo tempo. A história começa com uma dupla decisão de Abraão. Primeiro, de não casar seu filho com uma das jovens do lugar, mas buscar para ele uma mulher no distante círculo familiar de origem. Segundo, de não deixar que o próprio Isaque fosse para lá, arriscando-se a não voltar mais. Parece que Abraão já tinha percebido que algo queria impedir a ele e sua família de permanecerem na terra da promessa.

O servo de Abraão, que em Gênesis 15 é chamado de Eliezer, o damasceno, é enviado para essa delicada missão. A longa viagem é descrita sumariamente (Gênesis 24.10), levando direto à cena ao lado de um poço, na entrada da cidade onde morava Naor, irmão de Abraão. Ali Eliezer coloca sua missão na mão de Deus, pedindo um sinal concreto e específico (v.12-14). Nem tinha terminado de falar, e eis que aparece Rebeca, neta de Naor (celebrada em prosa e verso pelo narrador, v.16), para tirar água do poço (v.15). A narrativa vai intercalando diálogos demorados com ações rápidas e direto ao ponto. A história é envolta numa espiritualidade que transparece. Também Rebeca e seus familiares reconhecem a mão de Deus guiando os acontecimentos (v.50,51).

O servo retorna, trazendo Rebeca (v.61). A cena é imediatamente transferida para o lugar onde se encontra Isaque (v.62-63). E assim Isaque foi consolado pela perda da mãe (v.67). Em meio à maldade humana, que a narrativa bíblica não esconde, floresce uma beleza que faz lembrar o paraíso e não deixa morrer o sonho.

Dia 32 – Ano 1

Gênesis 16

Gênesis 16

Apesar das promessas, os problemas continuam. “Sarai, mulher de Abrão, não lhe dava filhos” (16.1). Uma vez que Deus estava demorando, a própria Sarai resolveu tomar a iniciativa. Naquela época, o filho de uma escrava podia ser assumido legalmente como filho da patroa. Assim, Sarai cede sua serva Hagar a Abrão, para ter um filho através dela. Hagar engravida, e isso deixa as relações entre as duas muito tensas. A ponto de Hagar fugir (v.6). Um anjo de Deus a encontra, e a convence a mudar de ideia e voltar para a casa de sua senhora (v.7-9). O filho de Hagar, disse o anjo, viveria e teria muitos descendentes (v.10).

O nascimento do menino, Ismael, é registrado com poucas palavras, mas com uma entonação que deixa claro que aquele ainda não era o fim da história, e que na verdade nem era o jeito de Deus realizar sua promessa a Abrão. Ismael é “o filho que lhe dera Hagar” (v.15), com uma insinuação de que este não era o filho prometido.

Essa história ilustra como a relação entre os propósitos de Deus e os nossos nem sempre são isentas de problemas. Às vezes vacilamos em nossa fé, em nossa confiança de que Deus faz tudo muito bem, e que “há um tempo para todo propósito debaixo do céu” (Eclesiastes 3.1). E aí fazemos as coisas do nosso jeito. E acabamos criando problemas que mais tarde podem gerar mais problemas. Abrão já tinha podido ver isso naquela temporada no Egito (Gênesis 12.10-20). A referência à idade de Abrão em 16.16 (“tinha 86 anos”) poderia sugerir que de fato, do ponto de vista humano, já era tempo de que a promessa divina se cumprisse.

Dia 25 – Ano 1