Êxodo 20

Êxodo 20

Já vimos como é importante perceber a relação entre os mandamentos e a libertação. Deus tirou Seu povo do Egito, onde ele estava oprimido e escravizado. Para quê? Só para levá-lo para dentro do deserto e colocá-lo sob um novo tipo de opressão e escravidão? Nesse momento da narrativa, quando ouvimos a recitação dos Dez Mandamentos, estas questões querem ser refletidas e meditadas.

A relação do ser humano com a lei sempre tem uma tendência a se tornar legalista. Como consequência, a lei passa a oprimir e escravizar. Mas não precisa ser assim. Ao colocar as leis na continuação do evento da libertação, a narrativa bíblica nos deixa uma mensagem: a lei divina quer continuar e aprofundar o processo de libertação.

O povo havia sido liberto da escravidão sócio-política no Egito. Grande passo. Absolutamente fundamental. Mas não é tudo. O processo iniciado deve continuar. Em duas direções. Primeiro, é preciso assegurar que novas escravidões sócio-políticas não voltem a acontecer. Segundo, há uma escravidão da qual os libertados ainda não estão livres: é a escravidão a si próprios. A escravidão de um ser humano “voltado para o seu próprio umbigo” e fazendo o mundo todo girar em torno dele. Nessa condição, o ser humano pode causar muita destruição ao seu próximo e à natureza, e com isso também a si próprio.

Este ser humano, que, se tiver oportunidade, oprimirá e tentará escravizar os outros para que sirvam às suas ambições. É este ser humano que Deus quer educar, amorosamente, para que aprenda a ser, não o opressor, mas o cuidador do próximo e da natureza. Foi com esse propósito que Deus deu os mandamentos: para preservar a frágil liberdade recém alcançada, para fortalecê-la e aprofundá-la, deixá-la criar raízes fortes e profundas nas pessoas e nas formas de organização social. Os mandamentos querem nos tirar da nossa escravidão a nós próprios, e nos tornar cuidadores do nosso próximo e de sua liberdade.

Dia 73 – Ano 1

Êxodo 1

Êxodo 1

O Livro de Êxodo começa fazendo ligações diretas com o Livro de Gênesis. Êxodo 1.1-5 repete a lista dos descendentes de Jacó/Israel que recomeçaram sua vida no Egito, por ocasião daquela grande fome em que foram obrigados a emigrar para lá. Aí vem uma pequena nota que encerra aquele período da história e ao mesmo tempo faz a transição para um novo período, séculos depois, onde vão acontecer as coisas relatadas no Livro de Êxodo. Primeiro se menciona a morte de José e de todos os seus irmãos, de toda aquela geração (1.6). Depois, que os filhos de Israel se multiplicaram grandemente durante aqueles séculos, “enchendo a terra”, demonstrando assim a bênção do Criador sobre a humanidade, e também que Sua promessa a Abraão continuava se cumprindo, mesmo longe da terra prometida. Os israelitas estavam tendo descendentes, e tinham sido uma bênção para os povos através do governo sábio de José no Egito.

Séculos depois, a conjuntura havia mudado no Egito. Toda aquela história agora era passado distante. Os israelitas (a partir de agora quase sempre chamados de “os filhos de Israel”), agora um grande povo, começaram a ser vistos como ameaça aos egípcios. Estes, então, os transformaram em escravos (Êxodo 1.14). Mas isso não impediu os israelitas de continuarem se multiplicando (1.12). A solução, então, foi extrema: mandar matar, durante o parto, os filhos homens (1.15-16). Não funcionou. Deus interveio. O Deus do qual, àquela altura, os próprios israelitas tinham só uma memória distante. Mas o importante é que Ele não os havia esquecido! Como último recurso, o faraó baixou decreto exigindo de todo egípcio que soubesse do nascimento de um menino entre os hebreus, que o atirasse imediatamente ao rio Nilo (1.22).

O Livro de Êxodo começa, assim, descrevendo como a promessa divina estava sendo ameaçada. Israel não morava na terra prometida, não era mais bênção para os povos, e sua própria existência futura estava ameaçada.

Dia 56 – Ano 1