Levítico 11

Levítico 11

Os capítulos 11 a 15 de Levítico trazem orientações pormenorizadas sobre como os israelitas deviam proceder em relação a tudo que, no seu dia a dia, os tornava ritualmente impuros. Para nós hoje, algumas coisas aí são um pouco difíceis de compreender. Precisamos sempre ter em mente qual é a questão de fundo.

Temos visto como era importante para o texto bíblico a correta observância e guarda dos espaços. Basicamente havia o espaço “profano”, onde se desenrolava a vida cotidiana em sua normalidade, e o espaço “sagrado”, onde os sacerdotes performavam os rituais que conectavam o povo a Deus. O espaço de Deus não era idêntico ao espaço sagrado. Ele ficava para além do espaço sagrado, separado dele por um espesso véu.

As leis relativas à pureza e impureza diziam respeito a tudo aquilo que, no cotidiano das pessoas, as tornava ritualmente impuras, ou seja, não aptas a se aproximarem do espaço sagrado. Muitas coisas com as quais as pessoas podiam ter contato, no dia a dia, as tornavam “impuras”. E como a impureza é contagiosa, tudo que era tocado por alguém impuro se tornava impuro. O objetivo dessas leis é definir precisamente o que torna alguém “impuro”, e o que fazer para se “purificar”. 

Levítico 11 trata de comida, especificando qual carne os israelitas podiam comer, e o que não deviam comer. Há um resumo em 11.46-47. Mesmo que não compreendamos bem alguns detalhes, a mensagem principal nisso tudo é: “vocês se consagrarão e serão santos, porque Eu sou santo” (11.44). Ser santo, portanto, é aprender a distinguir entre o puro e o impuro, e a se separar do impuro. Por que tudo isso? É o que queremos, aos poucos, ir refletindo, e tentar perceber como isso tem a ver com a reconciliação que Deus está trazendo ao mundo.

Dia 100 – Ano 1

Levítico 7

Levítico 7

É importante compreender que, por trás de todos esses sacrifícios e oferendas, há um jeito de ver o mundo. O mundo se encontra numa permanente tensão entre “ordem” e “caos”. O caos se introduz sempre que a ordem é violada. E “ordem” aqui é fundamentalmente a distinção dos espaços: o espaço divino, o espaço sacerdotal, os vários espaços humanos. O relato do jardim do Éden deixa claro que, no começo, não era para haver essa distinção de espaços. Tudo é junto. Mas a atitude do ser humano, de querer ocupar o “espaço” de Deus, levou à necessidade da demarcação dos espaços. A criação não podia voltar ao caos (Gênesis 1.2).

Todo o sistema ritual, descrito tão detalhadamente nos textos bíblicos que estamos lendo, quer inculcar isso no coração e na mente das pessoas. E mostrar que Deus continua firme em Seu propósito de “entrar na roda com a gente”. Por isso as transgressões dos espaços, que praticamos todo dia, com consciência disso ou não, precisam ser perdoadas; e as relações rompidas por estas transgressões, restauradas. A observância diária destes rituais era para trazer consciência disso, junto com alívio e gratidão. O resultado de tudo isso tem um nome nos textos bíblicos: shalom, paz, integridade restaurada e a felicidade que daí decorre.

É claro que há um risco sempre presente. O do formalismo. Das pessoas se acostumarem com esses ritos todos e os praticarem como meros ritos, não se lembrando mais de para que servem e o que querem ensinar. Como evitar que isso aconteça? Rememorando sempre de novo os propósitos de tudo isso, os fins para os quais tudo isso é meio. E, especialmente, mostrando sempre de novo que o mais importante é “colocar tudo isso no coração”, como se diz na linguagem bíblica. Que o nosso coração bata em sintonia com o coração de Deus.

Levítico 7 traz mais algumas instruções, e termina (7.37-38) com um resumo de todo o livro de Levítico até este ponto (Levítico 1 — 7).

Dia 96 – Ano 1