Levítico 24

Levítico 24

No capítulo 23 vimos a importância das festas no calendário e na espiritualidade israelita. Elas sinalizavam os tempos mais importantes do ano de trabalho, rememoravam eventos que marcaram a história do povo, e eram vivências de encontro, de reconciliação. As pessoas esperavam e se preparavam para elas.

Dentro da sequência narrativa do texto bíblico, que estamos acompanhando, a última “festa do Senhor” (Êxodo 32.5) não tinha sido exatamente algo que os israelitas lembrariam com carinho. Nela, comandados por Arão, eles tinham feito um bezerro de ouro, ao qual adoraram e atribuíram a libertação do Egito. E na última ocasião em que o povo e seus sacerdotes tinham celebrado com alegria a presença de Deus em seu meio (Levítico 9.24), dois dos filhos de Arão fizeram o que não tinha sido ordenado (Levítico 10.1-2), pagando o erro com a vida.

A razão disso é que a Tenda da presença divina é o lugar da terra em que se vive já agora o mundo vindouro, o mundo como é no começo, o paraíso. Por isso, ali deve prevalecer a Palavra de Deus, que cria o mundo e mantém sua ordem. A transgressão desse limite trouxe ao primeiro casal humano a perda do paraíso. A história bíblica desde então representa uma nova oportunidade para os humanos aprenderem a viver reconciliados com seus limites e, assim, com o mundo. 

Por isso são tão importantes as instruções que lemos aqui, referentes ao azeite do candelabro (Levítico 24.1-4) e ao pão que ficava sobre a mesa (24.5-9), no Lugar Santo, dentro da Tenda. O texto quer transmitir uma sensação de “ordem”, esta é sua principal mensagem. O relato que segue (24.10-23), que começa contando como dois israelitas brigaram e um deles “blasfemou” durante a briga, ilustra isso pela via contrária. Diferenças entre pessoas (24.10), são sentidas como ameaça. E se acaba amaldiçoando a Deus (24.11).

Dia 112 – Ano 1

Levítico 23

Levítico 23

Levítico 23 tem um tema: festa. Ele trata dos vários “encontros” que Deus quer ter com Seu povo ao longo de cada ano, em datas fixas (23.1-2). O primeiro deles é semanal. É o shabat, o sábado, o dia de descanso e adoração (v.3). Por ele se orientam os tempos no antigo Israel. Todo shabat é especial. Mas alguns são especialmente especiais, por marcarem o início ou o encerramento das grandes festas anuais.

A primeira das festas anuais, aqui, é o péssach, a páscoa (v.4-8). O dia da páscoa dá início à festa dos matsôt, dos pães ázimos. Por uma semana se comia pão sem fermento, para rememorar a saída do Egito. A segunda é shavuôt, a “festa das semanas”. O período todo se estende por 50 dias, daí o nome de “pentecoste”, e vai do início (v.9-14) ao fim (v.15-21) da colheita de grãos. A terceira festa anual é sucôt, a festa dos tabernáculos (v.33-43). No calendário agrícola, ela vai marcar o fim da colheita da uva, e a rememoração da peregrinação pelo deserto.

São tempos de alegria, de celebração. Festa pela libertação da escravidão, festa pela colheita dos grãos, festa pela uva e pelo vinho e rememoração dos tempos em que os israelitas viviam em tendas no deserto, tendo em seu meio a Tenda na qual Deus acampava com eles. No meio desses tempos de festa, há um dia anual de jejum e contrição (v.26-32), sobre o qual o capítulo 16 já havia falado. E uma pequena nota lembra que, no tempo da colheita, não se esqueçam  do pobre e do estrangeiro, que não têm onde plantar (Levítico 23.22-25).

Chama a atenção, nesse capítulo, o fato de que Deus deseja esses encontros. Os piedosos entre os israelitas sempre suspiravam por eles. Eram encontros entre as pessoas, das pessoas com Deus, das pessoas com a natureza. Oportunidades para o encontro consigo próprio. O movimento que leva aos encontros é o contrário do movimento do pecado. O pecado separa, desagrega, deixa cada um no seu canto e por sua conta. Propiciando a reunião e a agregação, essas festas são fatores de espiritualidade. Nelas se vive, por algum tempo, a esperança do mundo: reconciliação.

Dia 111 – Ano 1