Êxodo 21

Êxodo 21

O trecho de hoje é o primeiro de uma série em que encontramos leis de todo tipo, que funcionavam como parâmetros de organização e julgamento na vida do povo. Se trata de uma sociedade oriental antiga, muito diferente das nossas sociedades modernas. Os detalhes revelam preocupações com pequenos aspectos do cotidiano das pessoas.

Essas leis não estão aí para serem transplantadas direta e literalmente para o nosso tempo e a nossa sociedade. Não é assim que elas colaboram no processo pedagógico divino de que fala a narrativa bíblica. Assim elas até poderiam atrapalhar este processo. Temos que tentar olhar por baixo da superfície dos textos, e perceber o movimento subterrâneo que os anima e preside. Muitas vezes este movimento subterrâneo é difícil de ser percebido. E algumas coisas na superfície do texto parecem estranhas desde os nossos parâmetros, adquiridos posteriormente ao longo da história. 

Alguns destes nossos parâmetros são desvios motivados pelos maus impulsos do coração humano (cf. Gênesis 8.21). Já outros são, eles próprios, resultado da história começada ali no êxodo, e que se estende por todo o Antigo Testamento e depois pelo Novo, e chega até nós. Parte de nossa sensibilidade diferente, hoje, para com algumas questões humanas e sociais que afloram nestas antigas leis, resulta do mesmo processo que as anima.

É importante que procuremos perceber nestas leis o espírito que tenta se expressar nelas, que é o do amor de Deus pela humanidade e pelo mundo que Ele criou, e Seu desejo de que esta humanidade e este mundo reflitam a beleza e a generosidade que está na sua origem. Assim, também, evitaremos um legalismo literalista e destrutivo. É isso que o apóstolo Paulo quis dizer, mais tarde, ao falar sobre o jeito de ler estas leis: “a letra mata, mas o espírito faz viver” (2 Coríntios 3.6).

Dia 74 – Ano 1

Êxodo 5 — 6

Êxodo 5 — 6

O trecho anterior termina com uma nota de otimismo. Os israelitas no Egito acreditaram no que Moisés e Arão lhes tinham dito: que Deus tinha visitado Seu povo (Êxodo 4.31). Parece que a coisa vai ser rápida. Deus está abençoando. O próximo passo é transmitir a palavra de Deus ao faraó, e exigir-lhe que deixe os israelitas se irem do Egito. 

Aí começam os problemas. A resposta do faraó é cheia de despeito: “e quem é o Senhor? Nem sei quem é…” (Êxodo 5.2). Mas esse despeito lhe custará caro, a ele e a todo o povo e a terra do Egito, como veremos. A reação do faraó é típica de governantes que interpretam os protestos populares como causados pela falta de ter o que fazer (5.4-5). Ele toma medidas duras. Com esperteza, faz com que as lideranças do povo se dividam, e que uns paguem pela “ousadia” dos outros (5.14). O v.21 mostra a animosidade entre as lideranças israelitas. O próprio Moisés tem que reconhecer que tudo está dando errado. E se queixa amargamente. De repente, parece que é o próprio Deus que está afligindo o povo, e não o faraó (5.22). Em nome de Deus, ele tinha prometido libertar o povo; mas até agora, nada (5.23), estava pior que antes.

A resposta de Deus a Moisés é uma aula de história, começando pelos patriarcas antigos (Êxodo 6.2-4). E lhe assegurando que essa mesma história prossegue, e que o próximo passo será a libertação dos israelitas no Egito. Mas o povo estava tão esgotado que não conseguia mais acreditar em nada (6.9). Moisés, por sua vez, não sabia mais o que fazer: se seu próprio povo não o ouvia, como o faraó o ouviria? (6.12). E volta a insistir na sua incapacidade (6.12,30). Entre Êxodo 6.12 e 6.30, está a genealogia de Moisés (6.14-27), colocada ali para deixar claro que é este incapaz, sim, que Deus escolheu!

Dia 60 – Ano 1

Gênesis 8

Gênesis 8

O texto anterior terminou numa situação de completa desolação. O mundo tinha voltado à sua condição de antes da criação. O capítulo 8 começa com uma daquelas pequenas grandes frases da Bíblia: “E Deus se lembrou de …”. É só por isso que o mundo ainda existe. Tudo se encontra no coração de Deus do jeito que Ele vê aquilo que criou. E isso significa: do melhor jeito! Quando a humanidade e a criação esquecem, e já não lembram de como tudo é no coração de Deus, Ele não esquece. E quando Ele lembra, é com amor, e este amor vai logo ajudando. “Deus fez soprar um vento sobre a terra, e as águas começaram a baixar” (8.1). Como em Gênesis 1.2, o vento/espírito de Deus começa a soprar e das águas começa a surgir um belo mundo.

O capítulo 8 é como uma imagem invertida do capítulo 7. Lá vimos os preparativos cuidadosos para a entrada na arca, antes do dilúvio. Aqui, os preparativos cuidadosos para a saída dela, depois do dilúvio. Depois de saírem todos, Noé fez um altar e fez um sacrifício a Deus. Em 8.21-22, Deus delibera e decide que, mesmo que a maldade humana não seja eliminada (nem com sacrifícios!), a terra deve ser protegida dela.

Daqui por diante a narrativa bíblica vai, aos poucos, mostrando como Deus vai fazer para eliminar pela raiz a maldade humana, que sempre de novo ameaça a vida no planeta. Mas esta será uma longa história. Deus quer sempre contar com a participação livre do ser humano, respeitando a sua dignidade e querendo que ele cresça no processo (é como os pais com seus filhos). É esta história que queremos seguir acompanhando, enquanto continuamos com nossa leitura da Bíblia.

Dia 17 – Ano 1

Gênesis 5

Gênesis 5

Aqui começa a segunda “história da descendência” do Livro de Gênesis. A primeira foi a dos céus e da terra e seus filhos (cf. Gênesis 2.4), dos quais a narrativa se concentrou em um: adam, o Humano. Seguimos as suas peripécias até o fim do capítulo 4. Agora, no capítulo 5, começa a “história da descendência” deste Humano. O Humano (homem e mulher, 5.2) gera um filho “à sua imagem e semelhança” (como Gênesis 1.26). Depois, tem mais outros filhos e filhas, vive muito tempo e depois morre. O filho gerado, por sua vez, também gera um filho e depois tem outros filhos e filhas, vive bastante e depois morre. E assim vai.

Hoje em dia, achamos meio cansativo estas repetições. Mas quando a gente aprende a ouvir o que aí é dito, a gente começa a dar valor a elas, o valor que Deus lhes dá. Muita coisa depende destas repetições. A Bíblia fala de um “livro da vida”, um livro com a lista dos “vivos” (todos que estão na presença de Deus estão vivos, Mateus 22.32). Cada nome acrescentado a esta lista é acompanhado de uma explosão de alegria “no céu” (Lucas 15.10). Quando olhamos isso assim, as listas da Bíblia deixam de ser cansativas. Ficamos felizes por cada novo nome acrescentado, porque ele significa que a bênção de Deus continua sobre a humanidade. 

Na narrativa de Gênesis, quando uma lista termina se conta histórias sobre pessoas dessa lista. E aí a lista continua. Esta próxima lista, então, será interrompida para narrar eventos marcantes sobre pessoas dessa lista. E assim vai. Graças a Deus que “assim vai”, e que esta grande história chega até nós hoje e inclui os nossos próprios nomes nesta grande lista das pessoas amadas por Deus!

Dia 14 – Ano 1

Gênesis 4

Gênesis 4

Neste capítulo o cenário é diferente do que o que vimos nos três primeiros capítulos de Gênesis. É o mesmo cenário no qual vivemos hoje. Começa o drama da vida humana longe de Deus. Os temas são: família, filhos, religião, violência, segurança, trabalho, progresso, tudo numa mistura bastante instável. Ou seja, é a vida nossa de cada dia.

Mas outro tema percorre o capítulo, sem ser propriamente tematizado. Deus não ficou lá no jardim. Quando o ser humano foi separado de Deus, isso não quer dizer que Deus também tenha se separado de nós. Este capítulo mostra o contrário. Ele ajuda Eva a ter seu filho (4.1), reage aos gestos religiosos (4.4), conversa com Caim (4.6-7, 4.9-15).

Um novo passo aprofunda ainda mais o fosso entre o ser humano e Deus. No fim do capítulo anterior (3:23) Deus havia expulsado o casal humano de seu jardim. Agora, o filho do casal, Caim, se retira da presença de Deus (4:16). Mas não sem o sinal da graça de Deus (4.15)!

Os v.16 e 17 são centrais para a narrativa bíblica. O ser humano que se afasta de Deus (4.16) não fica parado. Ele faz a vida recomeçar (4.17). Gera um filho. Constrói uma cidade. Dá aos dois o mesmo nome: Enoque (que significa “começo”, “inauguração”). E assim, o “princípio” (Gênesis 1.1) vai sendo esquecido, e tudo que se sabe é que o mundo e a história teriam começado em “Enoque”, quando o ser humano começou a fazer história por si próprio. 4.18-24 conta os começos desta “história da civilização”.

Mas 4.25-26 mostra um outro lado. Na vida que continua, o nome de Deus não é esquecido. Sua presença leva sempre de novo ao reconhecimento desta presença e a invocação do Seu nome.

Dia 13 – Ano 1