Levítico 18

Levítico 18

Em Levítico 17, vimos como a reconciliação entre Deus e o povo, ritualizada no Dia da Expiação, “limpa os canais” por onde pode fluir o amor que, desde o centro do acampamento do povo de Deus, quer se espalhar por todo o mundo. E para isso é imprescindível que esse amor alcance o centro pessoal de cada indivíduo, e desde ali se espalhe ao seu redor, nas relações concretas do cotidiano. Vimos que a primeira destas relações a ser cuidada é a relação com Deus.

Levítico 18 trata de relações com pessoas, especialmente as do círculo familiar. E entre as distintas formas de relação entre pessoas, as relações sexuais são as mais íntimas. A energia sexual é uma das forças mais elementares e poderosas da natureza. A questão aqui é se ela é canalizada de uma forma que a integre ao movimento do amor, ou se ela se deixa levar pelos impulsos caóticos que conduzem ao pecado, por separar as pessoas de si próprias, umas das outras e da natureza, e assim também separar de Deus.

A primeira parte (Levítico 18.1-18) trata de relações sexuais não permitidas no círculo familiar amplo. Duas expressões se repetem, numa linguagem um pouco estranha para nós hoje. A primeira é “descobrir a nudez de”, que é um jeito de dizer “ter relações sexuais com”. A segunda é que a nudez de uma mulher “é de um homem”. As mulheres, naquele tempo, se definiam por sua pertença: aos pais, até o noivado; e ao noivo e marido, a partir dali. Quando um homem tinha relações sexuais com uma mulher que não a sua, ele estava “descobrindo a nudez” que pertencia a um outro. Estava invadindo, roubando. Querendo ter mais que o que tinha, não permitia ao outro ter o que era dele. Pretendendo ser o que não era, deixava de ser o que era e impedia os outros de ser o que eram. Aqui está a grande questão que permeia estas instruções.

A segunda parte (18.19-30) expande a primeira, tratando de relações sexuais que de alguma forma ultrapassavam limites. Delas é dito que a própria terra “se enoja” e acaba “vomitando” as pessoas que nela habitam (18.28).

Dia 107 – Ano 1

Gênesis 6

Gênesis 6

A “história da descendência” de Adam, o Humano, continua. Na verdade, sua continuação se estenderá até o fim da Bíblia. Incluindo a nossa geração e os que virão depois de nós. Gênesis 6 começa contando uma história que até hoje permanece envolta em mistério (6.1-4). Os “filhos de Deus” (ou: “dos deuses”, como eram chamados os seres celestiais) se juntaram com as “filhas do Humano”. Isso representou uma nova transgressão de limites, que para a humanidade trouxe efeitos devastadores. A longevidade, que na lista do capítulo 5 passava de 800 anos, é reduzida agora para 120 anos.

A soma dos acontecimentos relacionados a isso leva o Criador a uma dolorosa percepção, da maldade que grassa entre os humanos. Deus  constata que “todas as pulsões que geram os pensamentos do coração” do ser humano (6.5) são “só mal, todo o dia”. Tanto que, com o “coração pesado”, se arrepende de tê-los criado (6.6). E como tudo está vinculado entre si, isso atinge tudo (6.7). O fosso que se abriu em Gênesis 3 e só foi aumentando, se torna agora um abismo que traga tudo (6.11-12).

Gênesis 6.7-8  mostra dois lados do mesmo Deus: ira e graça. Deus decide destruir tudo. Bem, não tudo. E aí começa a narrativa de Sua graça em meio ao juízo. A história da descendência do Humano terminaria tragicamente, não fosse pela pequena frase do v.8: “Mas Noé foi agraciado pelo Senhor”. O restante do capítulo é uma mostra do cuidado de Deus em meio à tristeza pela corrupção que espalhamos, arrastando junto toda a criação. Noé, “homem justo e íntegro, que andava com Deus” (6.9), “faz tudo que Deus determina” (6.22). Não transgride os limites da determinação divina, como o casal humano do paraíso. E Deus decide continuar apostando na Sua criação.

Dia 15 – Ano 1