Levítico 7

Levítico 7

É importante compreender que, por trás de todos esses sacrifícios e oferendas, há um jeito de ver o mundo. O mundo se encontra numa permanente tensão entre “ordem” e “caos”. O caos se introduz sempre que a ordem é violada. E “ordem” aqui é fundamentalmente a distinção dos espaços: o espaço divino, o espaço sacerdotal, os vários espaços humanos. O relato do jardim do Éden deixa claro que, no começo, não era para haver essa distinção de espaços. Tudo é junto. Mas a atitude do ser humano, de querer ocupar o “espaço” de Deus, levou à necessidade da demarcação dos espaços. A criação não podia voltar ao caos (Gênesis 1.2).

Todo o sistema ritual, descrito tão detalhadamente nos textos bíblicos que estamos lendo, quer inculcar isso no coração e na mente das pessoas. E mostrar que Deus continua firme em Seu propósito de “entrar na roda com a gente”. Por isso as transgressões dos espaços, que praticamos todo dia, com consciência disso ou não, precisam ser perdoadas; e as relações rompidas por estas transgressões, restauradas. A observância diária destes rituais era para trazer consciência disso, junto com alívio e gratidão. O resultado de tudo isso tem um nome nos textos bíblicos: shalom, paz, integridade restaurada e a felicidade que daí decorre.

É claro que há um risco sempre presente. O do formalismo. Das pessoas se acostumarem com esses ritos todos e os praticarem como meros ritos, não se lembrando mais de para que servem e o que querem ensinar. Como evitar que isso aconteça? Rememorando sempre de novo os propósitos de tudo isso, os fins para os quais tudo isso é meio. E, especialmente, mostrando sempre de novo que o mais importante é “colocar tudo isso no coração”, como se diz na linguagem bíblica. Que o nosso coração bata em sintonia com o coração de Deus.

Levítico 7 traz mais algumas instruções, e termina (7.37-38) com um resumo de todo o livro de Levítico até este ponto (Levítico 1 — 7).

Dia 96 – Ano 1

Levítico 6

Levítico 6

Um pequeno aspecto tem grande importância em Levítico 5. Em 5.11 diz que se alguém é pobre demais até para trazer duas rolinhas ou dois pombinhos para o sacrifício, pode trazer flor de farinha. Isto quer dizer que o sacrifício de um animal não é obrigatório para o perdão dos pecados.

Aqui temos que distinguir entre os meios e os fins. Os meios dependem de circunstâncias, e em relação a eles Deus mostra disposição a se adaptar. Pedagogicamente, Ele se coloca na nossa situação e, dali, aos poucos vai nos ajudando a aprender quais são os fins, os objetivos de tudo isso. Estes fins últimos são constantes na narrativa bíblica. Em relação a eles, vale o que é dito de Jesus em Hebreus 13.8: ele “é o mesmo, ontem e hoje, e o será para sempre”. 

Isso vale para todo o sistema sacrificial, e valerá também, mais adiante, para as formas de organização do povo de Deus. Importante, realmente, é o grande propósito em tudo isso: a reconciliação entre Deus e a humanidade, entre Deus e o mundo. E o jeito com que Deus quer que ela se realize: com a nossa parceria consciente e ativa. Os sacrifícios, portanto, são transitórios. Importantes numa fase do processo pedagógico divino. Mas não fazem parte dos fins de Deus para conosco. Quem hoje se mostra sensível à violência contra os animais, pode ter mais razão do que quem é indiferente a ela, ou até a pratica, alegando que a Bíblia a permite ou incentiva!

Levítico 6 trata de diversos tipos de pecados, de atitudes que cavam fossos que vão separando as pessoas de Deus, delas próprias, umas das outras e da natureza. São fossos espirituais, por isso a gente normalmente não os enxerga. Só enxerga os efeitos, tempo depois: eles introduzem o caos na boa criação divina. Mas Deus enxerga, e como o Cuidador da criação (que nós também somos chamados a ser, Gênesis 2.15), Ele toma providências. Com os meios disponíveis em nosso ambiente e em nossa consciência, as relações rompidas são restauradas ritualmente. Este é o fim maior dos ritos na Bíblia. Com isso em mente, podemos entender melhor os textos que estamos lendo.

Dia 95 – Ano 1