Levítico 12

Levítico 12

Levítico 12 nos coloca diante de uma daquelas situações em que não há escolha: o cotidiano traz, sempre de novo, impureza. Gerar filhos era quase uma missão de vida para as mulheres na época. Não poder ter filhos era um grande problema. Mas o parto deixava a mulher “impura”, “como nos dias da sua menstruação”, diz Levítico 12.1. Quer dizer, se a mulher gerasse, ficaria impura; se não gerasse, também. E aí vinha toda uma sequência: o resguardo, a apresentação diante dos sacerdotes, os sacrifícios e/ou oferendas do ritual de purificação, lavar ou purificar tudo aquilo em que tinha tocado durante os dias de “impureza”. Quando tudo tinha terminado, era questão de dias e começaria tudo de novo. Isso sem contar o desgaste físico e emocional normal dessas situações.

Quando lemos textos como esse, ajuda fazer um exercício de se afastar um pouco e olhar de alguma distância, para poder enxergar o todo. Para os israelitas da época, também, esse todo tinha que ser e era constantemente rememorado (como mostram os Salmos), para que pudesse ser interiorizado e se tornar uma coisa do coração, e não só costume. O todo, a questão de fundo dessas leis, é que a partir delas o cotidiano dos israelitas passou a ter relação com Deus. Da madrugada ao por do sol, o dia a dia agora era visto em sua relação com o divino. Uma importante lição.

De uma vida integrada à vida de Deus, como era no começo, na criação, no Jardim, as pessoas passaram a uma vida separada de Deus. No caso dos israelitas, como vimos no Livro de Êxodo, a maioria sequer se lembrava mais de Deus. Havia uma certa religiosidade, certamente um vestígio de Deus no cotidiano, mas isso estava longe daquilo que Deus quer para os Seus filhos e filhas. O grande propósito em toda essa regulamentação do cotidiano é educar as pessoas para que as coisas possam ir se tornando de novo como no começo: que nossa vida diária seja integrada à vida de Deus.

Dia 101 – Ano 1

Gênesis 39

Gênesis 39

O foco passa a se concentrar em José. Vendido como escravo pelos irmãos, ele é levado ao Egito (39.1) e ali é comprado por Potifar, um alto funcionário da corte. Com o passar do tempo, José vai adquirindo a confiança de Potifar. Este o coloca como administrador geral de sua casa e seus bens. Percebe a presença divina nele (39.3). O texto bíblico não cansa de repetir que Deus estava com ele (39.2,3,5).

De um momento a outro, não se fala mais nisso (39.6-20), e se cria um suspense, que começa com a menção da beleza pessoal de José (v.6). A mulher de Potifar fica obcecada de desejo por ele, e começa um jogo que vai ficando dramático. José resiste. Seu desejo de viver de um modo digno de Deus (v.9) supera o instinto sexual. O desejo da mulher vira despeito. Ela se volta contra ele, contando a história do seu jeito. Potifar fica furioso e manda prender José. 

A essa altura a gente se pergunta se Deus estava mesmo com José! O texto se apressa a deixar isso claro (39.21). Na prisão, José vai adquirindo a confiança do carcereiro. Este o coloca como administrador geral do presídio. E o capítulo termina repetindo que “o Senhor era com ele, e fazia prosperar tudo que ele fazia” (39.23). Da perspectiva do próprio José, porém, muitas vezes as coisas devem ter parecido diferentes. 

Olhando por cima, a tragédia pessoal de José parece não ter fim. A situação vai piorando passo a passo, desde o dia em que seus irmãos se voltaram contra ele. Quando as coisas parecem estar melhorando, uma nova tragédia se abate sobre ele, aprofundando a desgraça. Esse descompasso entre a perpectiva de Deus e a nossa é uma das coisas mais difíceis no nosso caminho de vida com Deus. E a Bíblia não dá uma solução fácil para isso. Ela nos ensina, antes, a respeitar o mistério que envolve os caminhos de Deus e suportar dolorosamente as aparentes contradições que eles muitas vezes trazem consigo.

Dia 45 – Ano 1