1 Reis 13.21-34

1 Reis 13.21-34

No trecho anterior (1 Reis 13.7-20) nos deparamos com uma questão complexa que passará a fazer parte da história do povo de Deus. Nem toda palavra de profeta é palavra de Deus. Uma pequena chave nos é dada pelo texto quando ele identifica um dos profetas que aqui aparecem como “o profeta que havia feito voltar” o outro profeta (13.20). A palavra shúv, “voltar” é muito usada para significar “conversão”, “mudança de caminho”. Nesse caso, um profeta faz outro profeta abandonar o caminho de Deus e seguir uma suposta nova palavra de Deus, que o próprio texto desmascara como “mentira” (13.18). 

Na sequência, o profeta que desencaminha o outro profeta o acusa de ter sido rebelde à palavra de Deus (1 Reis 13.21), a palavra que Deus lhe dissera quando ainda estava em Judá, antes de partir em sua missão. O que complica a coisa é que o homem que acusa o outro de ter sido rebelde à palavra de Deus, é o mesmo que falou a suposta palavra de Deus que levou o outro a se rebelar, se desviar.

É significativo que o texto bíblico não decide a coisa com meia dúzia de palavras. Esse está certo, esse está errado, é isso. Não. A Bíblia vai contando histórias, sem pressa, umas enfatizando certos aspectos, outras insistindo em outros aspectos. A vida é complexa. O mundo é complexo. E essa complexidade é desenrolada, é mostrada pelos textos bíblicos. A verdade vai continuar aparecendo rodeada de elementos que não são a verdade. E nem sempre será fácil distingui-los. Para nós hoje, geração fast food, isso faz da Bíblia um livro às vezes cansativo, moroso, enrolado. E muitas vezes isso faz com que o próprio povo de Deus, ou parcelas dele, se deixe seduzir por palavras “claras”, “fortes”, meia dúzia de chavões proclamados “com autoridade”. E assim vão criando narrativas que formalmente repetem padrões da narrativa bíblica, mas cujo espírito está longe dela. Profetas estão sempre por aí, que “fazem voltar” o povo de Deus, desencaminhando-o da verdade por meio de palavras que, mesmo com grandes pretensões, não passam de “mentira”.

A sequência do trecho (1 Reis 13.23-34) relata o julgamento divino que atinge o “homem de Deus” de Judá que se deixou seduzir pelo “profeta” de Israel. E mostra também que, mesmo assim, as palavras que o profeta de Judá havia proclamado permanecem, pois são palavra de Deus, que “certamente se cumprirá” (13.32). O trecho conclui com uma pequena nota referente ao rei Jeroboão, que nesse texto sobre profetas é mero coadjuvante. O rei não havia aprendido nada. Jeroboão “não voltou de seu caminho mau” (13.33). O profeta que não devia ter se desencaminhado (shúv), o fez. O rei, que era para “se desencaminhar” (shúv) de seu caminho mau, não o fez. E Deus continua fazendo Seus caminhos em meio aos descaminhos de Seu povo, com paciência e amor.

Dia 309 – Ano 1