1 Reis 15.11; 15.34

1 Reis 15.11; 15.34

Cronologicamente, os capítulos 15 e 16 nos situam no tempo do longo reinado de Asa, rei de Judá. Asa era filho de Abias, filho de Roboão, filho de Salomão, filho de Davi. Foi o quarto rei da dinastia davídica. Durante o seu reinado, o reino de Israel conheceu vários reis em sucessão quase sempre tensa e sangrenta, até chegar em Acabe, que reinará por um período que abarcará vários capítulos do livro de 1 Reis.

A razão de fazermos uma retrospectiva nesse ponto é refletir sobre os critérios com que os reis são avaliados, um após o outro. Mesmo tratando da política da época, os textos bíblicos são primeiramente textos religiosos, espirituais. A narrativa bíblica é impulsionada pela busca de reconhecer sinais da presença de Deus na história de Seu povo. E é essa presença de Deus que lhe fornece os critérios que a movem.

Os governantes são julgados, e o julgamento é fixado em duas expressões: “fez o que era bom diante dos olhos do Senhor” ou “fez o que era mau diante dos olhos do Senhor”. Paralelamente, vão crescendo nos textos dois modelos contrapostos. 1 Reis 15.11 diz de Asa: “Asa fez o que era reto diante dos olhos do Senhor, como seu pai Davi”. 1 Reis 15.34 diz de Baasa: “Fez o que era mau diante dos olhos do Senhor, andou no caminho de Jeroboão”. Davi e Jeroboão vão se constituindo em símbolos de dois modos de governar. Os dois são diretamente confrontados em 1 Reis 14.8. Jeroboão é condenado porque “não foste como Davi, meu servo, que guardou os meus mandamentos e andou após mim de todo o seu coração, para fazer somente o que parecia reto aos meus olhos”.

À primeira vista, essas palavras parecem não levar em conta os aspectos negativos de Davi, que os próprios textos bíblicos fazem questão de expor. E que aparecem sem rodeios no diálogo do profeta Natã com Davi em 2 Samuel 12.1-9. “O Senhor enviou Natã a Davi”, assim começa o relato (2 Samuel 12.1). O profeta conta ao rei uma história, de um rico que abusa de um pobre (12.2-4). Ouvindo a história, Davi “ficou muito furioso” com o tal homem. “Esse homem deve morrer”, sentencia o rei (12.5). Então Natã disse a Davi: “Esse homem és tu” (12.7). “Desprezaste a palavra do Senhor, fazendo o que era mau diante dos Seus olhos” (12.9). O diálogo termina com uma confissão de Davi: “Pequei contra o Senhor”. E o profeta anuncia: “O Senhor perdoa o teu pecado; não morrerás” (12.13).

À primeira vista, mais uma vez, isso parece rápido demais. Teve relações com a esposa de um homem, mandou matar o homem, e em meio versículo se resolve a questão? E esse Davi é para ser o rei modelo, que guarda os mandamentos, segue a Deus de todo o coração e faz somente o que parece reto aos olhos de Deus? Como nos é mostrado nos livros de Jó e de Eclesiastes, fazer perguntas assim não é visto na Bíblia como algo negativo. Pelo contrário, faz parte do processo de amadurecimento do povo de Deus.

Dia 313 – Ano 1