Passado um tempo, o tempo em que Elias ficou na casa da viúva em Sarepta, no litoral norte, vem uma palavra de Deus a ele, fazendo prosseguir a história. A palavra é clara: “Vai, pede uma audiência com Acabe. Vou fazer chover” (1 Reis 18.1). Entrementes, Acabe havia tomado uma última medida desesperada para tentar salvar os rebanhos da estiagem. Ele e Obadias, seu ministro, percorrem a terra para ver se encontram alguma pastagem.
Obadias era temente a Deus. Quando a esposa de Acabe, a rainha Jezebel, havia tentado exterminar os “profetas do Senhor” (18.4), Obadias havia salvo cem deles, os escondendo em cavernas e os sustentando às suas próprias custas. Estando ele a caminho, agora, Elias sai ao seu encontro. A reverência com que o profeta é recebido por um ministro de estado chama a atenção (18.7). Segue-se um longo diálogo (18.8-15), em que Elias manda Obadias ir a Acabe e dizer-lhe que quer falar com ele. Obadias tenta se esquivar. Acabe está procurando Elias por todo canto, já de há muito. E suas intenções não são nada boas. Finalmente Obadias é convencido e vai. Acabe imediatamente vai ter com Elias.
O diálogo entre o rei e o profeta é elucidativo. A tensão entre essas duas figuras, esses dois ungidos de Deus, é evidente. Para o rei, o profeta é “o perturbador de Israel”. Para o profeta, é o contrário. “Não sou eu que tenho perturbado a Israel, mas tu e a tua casa” (18.17-18). Para o rei, o profeta perturba a ordem quando usa de seus poderes para fazer com que não chova e assim traz fome e penúria ao povo. Que o profeta alega agir em nome do Deus de Israel, parece não ter importância para o rei. Autoridade maior é ele, deus certo é aquele que ele decide que é. “Vocês tem sido indiferentes aos mandamentos do Senhor”, diz o profeta, “veneram os Baal”. Baal era um deus importante na região, com diversos deuses menores no seu séquito.
O conflito leva à confrontação direta. Elias manda o rei reunir o povo para que este decida por si próprio qual é o deus verdadeiro. Tendo como palco o Monte Carmelo, no norte de Israel, dois grupos se confrontam. De um lado, quatrocentos e cinquenta profetas de Baal, mais quatrocentos profetas da Asherá, uma deusa reverenciada por Jezabel, mulher de Acabe (18.19). Do outro lado, Elias, o único profeta do Senhor que havia sobrado da matança perpetrada por Jezabel (não era de conhecimento público que Obadias havia salvo e escondido cem profetas). A diferença numérica é brutal. Na sequência veremos o que vai acontecer.
Dia 317 – Ano 1