1 Reis 9

1 Reis 9

Terminadas as principais construções, Deus aparece mais uma vez a Salomão. Na perspectiva bíblica, o fato de Deus aparecer tantas vezes seguidas nesse momento histórico significa que ele é de grande importância para o projeto divino com o povo escolhido e com a humanidade.

Primeiro, Deus ratifica o apoio à construção do templo. Deus santifica a casa e faz com que Seu nome esteja nela, o que quer dizer “os meus olhos e o meu coração estarão ali” (v.3). Em seguida, vem a advertência constantemente reiterada. “Se andares diante de mim … com integridade de coração e com sinceridade, fazendo tudo de acordo com o que te determinei” (v.4), “então confirmarei…” (v.5). “Porém se … de qualquer maneira se apartarem de mim” (v.6), “então eliminarei…” (v.7). O ponto central da advertência divina está na possibilidade de o Seu povo “seguir a outros deuses” (v.6,9).

Depois disso segue a história, na narrativa bíblica. É importante que percebamos que a história narrada se encontra emoldurada por essas aparições divinas, com suas promessas e advertências. Aí se encontra o motor oculto dessa história. Entre 1 Reis 9.9 e 9.10, parece passar-se algum tempo. E esse tempo carrega coisas com as quais a narrativa vai ficando cada vez menos satisfeita. A razão da inclusão do pequeno relato de 1 Reis 9.10-14 parece ser sinalizar isso. Hirão, rei de Tiro, sócio de primeira hora dos projetos de construção, recebe de Salomão um presente, “vinte cidades na terra da Galiléia” (v.11). Hirão sai para ver o presente, e fica desgostoso. “Que cidades são essas que me deste, irmão?” (v.13).

Na sequência, o v.15 começa assim: “A razão pela qual Salomão estabeleceu os trabalhos forçados…” e continua com uma extensa lista das construções feitas por Salomão, a maior lista até esse ponto (v.15-19). Os v.20-22 sugere uma justificativa para os trabalhos forçados: só “quem não era dos filhos  de Israel” (v.20) tinha sido escravizado; “dos filhos de Israel não fez Salomão escravo algum” (v.22). O problema é que, em Suas frequentes aparições a Salomão, Deus insiste reiteradamente que as promessas valem “se andares nos meus caminhos e guardares as minhas determinações e os meus mandamentos” (1 Reis 3.14). Entre essas determinações temos, por exemplo, Levítico 19:13: “Não oprimirás o teu próximo”. Quanto ao trato com estrangeiros, Deuteronômio 10.19: “Amem o estrangeiro, vocês mesmos foram estrangeiros na terra do Egito”. 

Uma tradição judaica diz que a ordem de respeitar os estrangeiros se encontra 36 vezes na Torá. Se esse número é exato ou não, importa menos. Importa é que o tema é reconhecido como de vital importância no projeto de Deus com Seu povo e com a humanidade. “Egito” aqui vira um símbolo das perspectivas humanas que se deve abandonar para aprender a andar em novos caminhos, que espelhem a humanidade como ela é no coração de Deus. As constantes advertências contra os ídolos também servem a este mesmo propósito.

Dia 297 – Ano 1