2 Reis 6.18-23

2 Reis 6.18-23

Imediatamente as tropas começam a descer para prender Eliseu, a missão para a qual haviam sido enviadas pelo rei da Síria. O texto continua impávido: “E Eliseu orou ao Senhor, e disse: Fere esse povo com cegueira”. Dito e feito: “E Ele os feriu com cegueira, conforme a palavra de Eliseu” (2 Reis 6.18). Duas orações seguidas. Mesmo tema. Mas em direção inversa. Eliseu pede a Deus que “abra os olhos” do seu ajudante. E Eliseu pede a Deus que “feche os olhos” dos seus inimigos.

Então Eliseu vai falar com o comandante, e lhe diz que está no lugar errado. E se oferece para guiá-los ao lugar que procuram, pois eles não conseguem enxergar. “E os levou a Samaria” (6.19). Quando entraram em Samaria, a capital do reino de Israel, Eliseu ora mais uma vez: “Senhor, abre-lhes os olhos”. “E o Senhor lhes abriu os olhos, e viram” (6.20). E qual não foi a surpresa, quando perceberam que estavam em Samaria. Ao vê-los, o rei de Israel pergunta a Eliseu se deve acabar com eles. Eliseu diz que não. E manda que lhes dêem de comer e beber.

“E lhes serviram um grande banquete”, diz o texto. E depois os despediram em paz. E a narrativa bíblica não cansa de surpreender-nos. Que oportunidade para trucidar os inimigos e ficar em posição de vantagem na guerra entre os dois reinos. E mostrar que talvez, com rei e profeta trabalhando juntos, poderíamos nos tornar invencíveis. Mas o texto sugere que o caminho certo é o caminho da paz, e que o caminho para a paz não é por aí. “Não é esse o caminho”, diz o profeta alusivamente ao comandante (6.19). E os leva por um outro caminho. Agora Eliseu diz ao seu próprio rei, que levar vantagem na guerra pode não ser o melhor caminho para a paz. E contra todos os manuais de estratégia militar, oferece um banquete a aqueles que tinham vindo prender o profeta que tanto os tinha atrapalhado em seus objetivos militares. O texto conclui de modo lacônico: “E eles retornaram ao seu senhor, e as tropas sírias não voltaram mais a invadir a terra de Israel” (6.23).

Nesse contexto, a paz não foi duradoura. As hostilidades continuaram, depois de um tempo. Mas isso não chega a perturbar a narrativa. A possibilidade de um novo olhar está colocada. E seu potencial não deveria ser subestimado, especialmente quando os exércitos celestes, guardiões da paz, zelam por ela. Soluções mais definitivas para os problemas da guerra e da paz, talvez nesse momento ainda não estejam maduras, da perspectiva da narrativa bíblica. No Getsêmani, quando inimigos vêm prender o profeta Jesus, ele diz, a quem pensava em defendê-lo com armas, que Deus teria legiões de anjos preparados para defendê-lo, se fosse o caso. Mas, diferente do que no tempo de Eliseu, as Escrituras dizem que agora o caminho é o da sua entrega à morte (Mateus 26.53-54). As Escrituras prevêem que o caminho para a paz duradoura (Isaías 53.5) passa pela eliminação das próprias raízes da guerra, quando o Leão se submete à morte de Cordeiro (Apocalipse 5.5-6). Então “o Senhor de todos os seres dará neste monte a todos os povos um banquete” (Isaías 25.6), e já não haverá mais por que fazer guerra.

Dia 346 – Ano 1