2 Reis 6.24 — 7.20

2 Reis 6.24 — 7.20

A paz entre israelitas e sírios não durou muito. No episódio anterior (2 Reis 6.8-23), o rei da Síria nunca é nomeado. Agora o texto fala em “Ben Hadade, rei da Síria” (2 Reis 6.24). Este é aquele que havia se bicado com Acabe, rei de Israel, em 1 Reis 20. O fato de o episódio anterior não nomear o rei pode significar que a história do desconcertante tratamento dado aos sírios pelos israelitas tem um sentido paradigmático, tipo “assim é que deveria ser”. Ben Hadade, no entanto, não parece ligar para isso. Ele junta seu exército e invade a terra de Israel, e impõe um terrível cerco à capital, Samaria. Nesses casos, as rotas de abastecimento (de água e comida) são bloqueadas pelos invasores, e o povo fica condenado a morrer de fome.

Um dia o rei de Israel, ao inspecionar as defesas e as fortificações, é abordado por uma mulher que lhe apresenta queixa. Ela havia combinado com uma outra mulher que elas comeriam seus filhos pequenos. Cozinharam um deles, e mataram a fome. Quando chegou a vez da outra, ela se recusou. Ouvindo isso o rei, que já se achava no limite, estourou. E elegeu Eliseu por bode expiatório (6.31)! E decretou sua morte. Nisso veio a Eliseu uma palavra do Senhor anunciando que no dia seguinte os israelitas voltariam a ter o que comer.

Segue-se, então, um relato um tanto curioso. Quatro leprosos decidiram partir para o tudo ou nada. Ficando onde estavam, morreriam de fome. Se entrassem em Samaria, também morreriam, pois não havia comida. Iriam ao acampamento sírio e arriscariam a sorte. Foram de noite, para não dar na vista. Chegando lá, viram que não havia ninguém. Entraram numa tenda, comeram, beberam, carregaram algumas coisas. Também numa outra tenda não havia ninguém. O acampamento estava abandonado (2 Reis 7.3-5). A explicação é dada no meio do próprio relato (7.6-7). De repente os sírios ouviram um grande alarido de guerra. Concluíram que o rei de Israel havia contratado exércitos estrangeiros para lutar contra eles, e foi um salve-se quem puder.

O que havia acontecido? O texto diz que os sírios ouviram “voz de carros, voz de cavalos, voz de um grande exército” (7.7). Aparentemente não viram nada. Como leitores do texto, temos uma espécie de acesso privilegiado aos bastidores da notícia. O contexto nos sugere que se trata daquele exército celeste que, em Dotã, havia se postado atrás dos sírios que tinham vindo prender Eliseu. O ruído que causaram deixou os soldados sírios em pânico. E a guerra termina ali. O que parecia impossível, aconteceu. A narrativa inclui uma fala de um capitão israelita que, ao ouvir Eliseu dizer que no dia seguinte a situação estaria normalizada em Samaria, retrucou com certa ironia que isso era impossível, “mesmo que o Senhor abrisse janelas no céu” (7.2; 7.19). E assim mais uma vez vemos que os “exércitos do Senhor” têm como propósito a paz, não a guerra; e que “janelas no céu”, afinal, são possíveis!

Dia 347 – Ano 1