Deuteronômio 11

Deuteronômio 11

O amor com que Deus nos ama quer ser retribuído. Amor quer reciprocidade. Por isso Deuteronômio 11 começa exortando ao amor (v.1). Esse tem sido um tema frequente em discussões teológicas e filosóficas. Pode o amor ser objeto de uma exortação ou de uma ordem? Isso não lhe roubaria a espontaneidade, que é uma das características essenciais do amor?

Nosso texto não parece ter problemas com isso. Além de exortar ao amor, ainda acrescenta uma exortação à obediência diária (v.1), dando a entender que uma coisa está intimamente ligada à outra. Amar é querer o melhor para o outro. Amar a Deus, é querer o melhor para Ele. E Ele quer duas coisas, como vimos no capítulo anterior: que o tornemos o nosso Deus, com tudo que isso implica, e que amemos o nosso próximo, Sua criatura, por Ele amada.

Nosso problema é que o pecado nos tornou excessivamente focados em nós próprios. A percepção do não-amor leva a querer compensar, dando a si próprio todo o amor que os outros deixam de nos dar. Só que aí bagunça tudo. Esse amor a si, desse jeito, se torna uma obsessão que já nem mais amor é, e os outros são esquecidos. Resultado: não amamos nem a nós próprios e nem aos outros, e menos ainda a Deus, que acaba sendo substituído por nós próprios ou por alguma projeção em que nos projetamos em algo que “amamos”.

Desfazer esse grande nó, é trabalho paciente e de toda uma vida. E é esse o objetivo da Instrução que encontramos na Bíblia. Precisamos ser libertados da prisão que somos para nós mesmos, gerada e alimentada pelo foco excessivo ou exclusivo em si próprio. Precisamos que alguém nos ajude a tirar os olhos do nosso próprio umbigo. Aí enxergaremos o nosso próximo e também a Deus nele e por trás dele. Assim, aos poucos refocalizaremos. 

O novo foco nos faz ver o próximo, Deus por trás dele, e nós próprios por trás dos dois. E é esse gesto básico que a Instrução quer nos ajudar a aprender. Obedecer aos mandamentos é aprender esse gesto. Amar a Deus, também. Amar ao próximo, também. Resultado: reaprendo a amar a mim mesmo.

Dia 162 – Ano 1