Isaías 1.16-20

Isaías 1.16-20

Em Isaías 1.10-15 tivemos veementes advertências e denúncias contra o “povo de Sodoma e Gomorra”, a população de Judá e Jerusalém. Dois pontos aparecem com nitidez. Primeiro, “as mãos de vocês estão cheias de sangue” (1.15). Os crimes, no entanto, não impedem as pessoas de participar do culto. Segundo, Deus não atura essa mistura de iniquidade com congregação reunida (1.13). Os criminosos e os participantes do culto parecem ser a mesma comunidade. Como entender isso? São criminosos e não sabem? São criminosos, sabem, mas são cínicos? Como alguém pode ser criminoso sem saber que é? São perguntas que esse texto levanta, talvez o melhor seja esperar que o próprio texto as aclare.

Em 1.16-20 temos um apelo à tomada de consciência e mudança de vida. O texto se estrutura em torno de 10 imperativos em sequência. Os primeiros são: “Lavem-se! Purifiquem-se!”. Em linguagem um pouco diferente: “Removam de diante dos meus olhos a maldade dos atos de vocês!”. Segue-se duas exortações que se complementam: “Parem de fazer o mal! Aprendam a fazer o bem!”. Quatro exemplos práticos são dados, para que isso não fique abstrato. “Empenhem-se pelo Direito! Endireitem o opressor! Zelem pelo direito do órfão! Defendam a causa da viúva!” (1.16-17). 

Aqui já se delineiam respostas às nossas perguntas. Enquanto as mãos sujas de sangue não forem lavadas e purificadas, enquanto a maldade não for removida de diante de Deus, nosso culto não pode ser aceito. Não culto com iniquidade, e sim culto com justiça! Parar com o mal, aprender o bem: esta é a síntese do Direito, para Israel e para a humanidade toda. E para que isso não fique muito etéreo ou subjetivo, algumas consequências bem concretas são especificadas. O opressor deve ser julgado e corrigido. Os mais vulneráveis, órfãos e viúvas, devem ser protegidos e ter sua dignidade preservada. 

O décimo imperativo se estende em uma argumentação. “Venham, vamos debater!” (1.18). A capacidade divina de perdoar não é diminuída face a todas essas más ações. De Deus nunca roubamos nada, roubamos de nós mesmos. Em linguagem que faz uso dos contrastes de cores, a mensagem é dada. O sangue dos pecados pode ser removido. O perdão divino os remove completamente. Isso, porém, deve contar com a participação voluntária e decidida de cada pessoa. “Se tiverem boa vontade e ouvirem…” (1.19). “Se se negarem e resistirem…” (1.20). E outra metáfora é acoplada: comer do bom e do melhor, ou ser devorado pela espada. 

Em síntese: justiça social tem incidência direta sobre a religião e a espiritualidade. Ética e culto tem tudo a ver. Não podemos agradar a Deus enquanto somos indiferentes às pessoas portadoras da Sua imagem.

Dia 9 – Ano 2