Isaías 10.1-4

Isaías 10.1-4

Isaías 10.1-4 é um fecho para todo o trecho que vai de Isaías 5.8 até 10.4. Aqui se encontra pela última vez o refrão sobre a indignação divina (5.25; 9.11; 9.16; 9.20; 10.4) e também o último da lista dos sete “ais” (5.8; 5.11; 5.18; 5.20; 5.21; 5.22; 10.1) sobre a “videira de Deus”. Isaías 5.8 a 10.4 contém mensagens e reflexões sobre as causas e as soluções para essa perversão do chamamento divino em Judá e Israel. Todo esse trecho pode ser lido como uma extensa análise do que significa que, de Sua videira, Deus “espera o direito, e vejam: derramamento de sangue! Justiça, e vejam: gritos de dor” (Isaías 5.7). 

Isaías 10.1-4 encerra esse longo trecho puxando os fios de volta ao ponto de partida, diagnosticando uma das raízes centrais do problema. Quando o povo de Deus se organiza como uma nação ao lado de outras, sua incumbência é traduzir em instituições concretas estes fundamentos da Sabedoria e da Instrução que presidem a criação toda. Como “direito” e “justiça” são parte destes fundamentos, sua expressão em um arcabouço jurídico apropriado é muito importante. Pois é ali que direito e justiça terão suas expressões mais concretas.

“Ai dos que criam leis injustas, promulgam decretos que promovem opressão” (10.1). “Negam justiça aos pobres, usurpam o direito dos humildes do meu povo. Despojam as viúvas, roubam os órfãos!” (10.2). A elite acumula dinheiro e poder às custas dos mais vulneráveis da sociedade, e com parte do dinheiro e do poder se abriga atrás de um judiciário corrupto que a ela se associa. Esse escândalo ressoa repetidamente nas profecias de Isaías. “Teus líderes são rebeldes, companheiros de ladrões. Todos amam um suborno e perseguem propinas”, tão atarefados se encontram nisso que “não buscam o direito do órfão, a causa da viúva não chega a eles” (Isaías 1.23).

As denúncias a essa situação no Livro de Isaías visam alertar o povo de que o Deus do direito e da justiça não pode senão ficar indignado diante disso. E essa indignação divina já começou a se derramar sobre o Seu povo. Mas as denúncias não estão sendo ouvidas. Talvez até sejam percebidas como parte de uma narrativa que supostamente contestaria o progresso e o bem-estar material em nome de arcaicos conceitos de solidariedade comunitária.

Diante disso, só o que resta no horizonte é o “dia da visitação”, o “dia da calamidade” que de longe vem se aproximando. O dia em que todo poder será impotente, o fim de toda glória enganosa (Isaías 10.3). Então só restará “humilhar-se entre os prisioneiros, cair entre os mortos” (10.4). Mas a maldade ainda resiste. “Com tudo isso, Sua indignação não diminuiu, Seu braço continua estendido” (10.4). Assim termina esse trecho do Livro de Isaías que tenta entender “como, esperando eu que desse uvas boas, deu uvas  más” (Isaías 5.4).

Dia 26 – Ano 2