Isaías 25.7

Isaías 25.7

O grande banquete dos povos reunidos no Sião (Isaías 25.6) acompanha e é expressão de uma realidade mais profunda. A partir deste lugar, o Senhor de todos os seres operará a revolução mais abrangente de toda a história humana e do mundo. “Tragará o véu que cobre todos os povos, a coberta estendida sobre todas as nações. Tragará a morte para sempre!” (Isaías 25.7). Há uma negatividade que impede a realização da grande Visão que a profecia tenta nos transmitir. Essa negatividade está presente de um lado a outro da terra e da vida da humanidade, e lançou raízes nas maiores profundezas. Não só impede a realização da visão profética, mas constantemente produz e alimenta o seu contrário.

A visão profética prevê um tempo em que o Senhor de todos os seres dará no Sião um banquete a todos os povos. É o lado positivo da remoção do negativo. “Tragará o véu que cobre todos os povos, a coberta estendida sobre todas as nações” (Isaías 25.7). O “véu” poderia ser o que se interpôs entre os olhos do casal humano no paraíso e a realidade ao redor, causando a perda da percepção de uma dimensão da realidade. O texto de Gênesis 3 pode ser lido nesta perspectiva. Até o momento, Adão e Eva estavam nus e não se envergonhavam (Gênesis 2.25). Ao “comerem o fruto” (Gênesis 3.6) “seus olhos se abriram” (3.7) e, percebendo que estavam nus, a vergonha os levou a cobrir a nudez. Esse primeiro ato de “conhecimento” lhes revela um mundo que, mesmo sendo o mesmo, é diferente. Traz consigo um “des-conhecimento”, a perda da percepção da dimensão espiritual. A remoção do “véu” faz com que tenhamos novamente a percepção dessa dimensão, que é parte do nosso mundo mas que havia se perdido para nós.

A “coberta” estendida sobre todas as nações talvez se refira à mesma realidade, em coordenadas diferentes. A narrativa bíblica pressupõe a unidade, um contínuo de “céus e terra”. A criação inteira é descrita como a “história da descendência dos céus e da terra” (Gênesis 2.4), como a “prole” do “casamento” entre os céus e a terra. O foco da narrativa estará na terra, mas sempre com os céus bem presentes. Quando os humanos rompem com as determinações estabelecidas pelo Criador, um “véu” passa a estar entre os seus olhos e a realidade, impedindo-os de ver a dimensão mais fundamental da sua existência. De um outro ângulo, entre os céus em cima e a terra embaixo se forma uma densa “coberta” que separa a terra dos céus. 

Quando os humanos deixam de perceber os “céus”, para a percepção deles o contínuo entre terra e céus se desfaz. E como há um contínuo também entre os humanos e a natureza, a própria natureza acaba sendo afetada por essa ruptura. Este é o drama que a Visão profética tenta descrever.

Dia 47 – Ano 2