Isaías 40.2 (2)

Isaías 40.2 (2)

A tsevaá, o “serviço coletivo” do povo de Deus no exílio “se completou”,   anuncia o profeta (Isaías 40.2). A palavra tsevaá é um singular coletivo, há também um plural coletivo, tsevaôt (muitas vezes traduzida como “exércitos”). O singular tem o foco na tarefa, o plural nos que realizam a tarefa. O povo israelita é uma parte essencial dos tsevaôt, os convocados para servir no “exército” de Adonai tsevaôt (“o Senhor dos exércitos”, “o Senhor de todos os seres”). Em sua maior amplitude, esse “exército” abrange todos os seres do universo (Gênesis 2.1). Todos os seres têm sua função, e todos juntos têm um “serviço coletivo” a desempenhar. Em Isaías 40.2, esse serviço está expressamente vinculado ao perdão dos pecados e a remoção da iniquidade. 

Um dos aprendizados do povo de Deus no tempo do exílio foi que Israel é o servo de Deus (Isaías 41.8). “Tu és o meu servo, eu te escolhi, e não te rejeitei” (41.9). Israel agora conheceria melhor o seu Deus, “o Senhor Deus que cria os céus e os estende, que molda a terra e tudo que ela gera, que concede o sopro divino ao povo que nela habita, o espírito aos que andam nela” (Isaías 42.5). Israel aprenderia o que significa “Eu, o Senhor, te chamei em justiça, te peguei pela mão e te guardei, para fazer de ti uma aliança com a humanidade, uma luz para as nações” (42.6). 

O “serviço coletivo” de Israel tinha a ver primeiramente com o perdão dos seus próprios pecados e iniquidade. Em princípio, essa parte da missão teve um completamento. Além das revisões de vida pessoais e comunitárias, foi fundamental para isso o trabalho dos intercessores. Em suas profecias sobre as causas do cativeiro babilônico, o profeta Ezequiel faz uma dura denúncia contra os profetas, os sacerdotes e os líderes de Jerusalém (Ezequiel 23.25-29). Todos estavam ocupados demais com seus próprios projetos. Causavam a destruição, em vez de buscar remediá-la. Nessa situação, a palavra do Senhor ao profeta é alarmante: “Procurei entre eles alguém que reparasse os buracos do muro, que se colocasse na brecha diante de mim a favor desta terra… Mas não achei ninguém!” (Ezequiel 23.30). Antes o Senhor já havia acusado os profetas de “não se colocar nas brechas, não fazer muros para a casa de Israel” (Ezequiel 13.5).

Cantos litúrgicos em Israel celebravam Moisés porque “se colocava na brecha” entre Deus e o povo (Salmos 106.23), quando os pecados do povo o ameaçavam de destruição. Em meio à destruição do exílio, o povo de Deus foi agraciado com intercessores, reparadores de brecha. Daniel, que na narrativa bíblica é um líder e profeta israelita na Babilônia, é o seu protótipo. Meditando no cativeiro do seu povo, ele “se volta ao Senhor, para o buscar com oração e súplicas” (Daniel 9.3). Como intercessor, ele confessa vicariamente os pecados e a iniquidade do seu povo (Daniel 9.4-19). Gabriel, enviado de Deus, se coloca ao seu lado e lhe diz que as orações são ouvidas e que por elas os pecados são perdoados e a iniquidade é expiada! (Daniel 9.21-24). “Muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo” (Tiago 5.16).

Dia 78 – Ano 2