Isaías 45.7

Isaías 45.7

Isaías 45.7 é um dos versículos mais discutidos de toda a Bíblia. “Eu, o Senhor, e nenhum outro” (Isaías 45.6), “formo a luz e crio a escuridão, faço a paz e crio o mal. Eu, o Senhor, faço tudo isso” (45.7). Nesse texto há quatro afirmações a respeito da ação criativa de Deus. O que tem sido causa de intermináveis discussões é a quarta afirmação, “crio o mal”. 

Antes e depois, Deus insiste em chamar a responsabilidade para Si próprio: Eu, ninguém mais, Eu, faço tudo isso. As quatro afirmações são paralelas. As duas primeiras juntas formam uma linha, e as duas últimas outra linha. Dentro de cada linha, as afirmações remetem a elementos em oposição. “Formo a luz” e seu contrário, “crio a escuridão”. “Faço a paz” e seu contrário, “crio o mal”. Três diferentes verbos são usados para se referir ao ato divino de fazer uma coisa surgir: “criar”, “formar” e “fazer”. Os três verbos são usados também em Gênesis 1 e 2, nos relatos da criação.

“Luz” e “escuridão” remetem à criação do universo, Gênesis 1.2-3. Ressaltando que Deus cria também a escuridão, não só a luz. A que se referem os elementos da segunda linha, “paz” e “mal”? Tem sido sugerido que eles se referem a acontecimentos históricos específicos, do contexto da época. Nesse caso, a “paz” seria um período de ausência de conflitos, e “o mal” seria conflitos ou desgraças. Um problema é que, nessa parte do Livro de Isaías, está-se falando dos acontecimentos históricos como uma nova criação divina. E que nos textos bíblicos criação e história são umbilicalmente vinculados. O melhor, então, é entender as quatro afirmações como se referindo à criação divina e seus reflexos na história. 

O que Deus quer dizer quando diz “Eu crio o mal” (Isaías 45.7)? Em Gênesis 3, a serpente no paraíso sugere uma relação entre a “árvore do conhecimento do bem e do mal” e “conhecimento do bem e do mal”, que viria com o fato de comer do fruto dela (Gênesis 3.5). Deus havia proibido expressamente que o comessem, pois morreriam. Quando comeram, Eva e Adão “conheceram” que estavam nus (3.7). Subitamente eles eram detentores de um conhecimento que os impelia a se cobrir, a se esconder, a botar culpa um no outro, que levava a natureza a ficar contra eles, e que os levava a pensar que Deus estava contra eles. Na própria assembléia divina se reconhece que os humanos agora são “conhecedores do bem e do mal (Gênesis 3.22). Isso leva o Criador a colocá-los fora do paraíso, longe da árvore da vida.

O conhecimento do bem e do mal que os humanos passaram a ter, no entanto, se mostra diferente do que o mesmo conhecimento em Deus. O “mal” é sem “bem”, e acaba se opondo ao “bem”. Quando os humanos aprenderem novamente a conhecer bem e mal como são em Deus, poderão de novo ter acesso à árvore da vida. Isso é uma longa história.

Dia 96 – Ano 2