Isaías 49.1-3

Isaías 49.1-3

Ouçam-me, povos distantes! O Senhor me chamou ainda no ventre materno, ainda no útero de minha mãe Ele me chamou pelo meu nome … E me disse: Tu és o meu Servo, Israel. Em ti serei glorificado.

Quem fala aqui é certamente uma pessoa especial. Com uma intimidade com Deus, de primeira ordem. Antes mesmo de nascer, Deus já a conhecia tão bem, que já tinha até nome para ela. Como diz um salmista, “tu me teceste no ventre de minha mãe” (Sl 139.13). Já ali me chamaste, me preparaste para o que a mim estava reservado. O nome dessa pessoa não é mencionado, só Deus o conhece.

Tu és o meu Servo. Esse não é o seu nome, é sua missão. Sua missão é servir a Deus, para os propósitos que Deus já lhe havia designado antes de nascer. Sua missão não é definida aqui em meia dúzia de palavras. Volta e meia o texto retorna ao tema, sempre de um ângulo diferente, e assim vai compondo um quadro, uma figura cujos contornos vamos percebendo pouco a pouco.

Tu és o meu Servo, Israel. Aqui temos um nome. O nome do Servo é Israel. “Israel” foi o nome dado ao patriarca Jacó. O nome já remetia a algo que ia além de um simples nome. Jacó se tornou “Israel”, porque dele descenderiam as doze tribos que mais tarde comporiam o povo de Israel. O nome, então, já apontava para uma missão. Missão que não era outra, que não a que Deus havia dado a Abraão, avô de Jacó, de “ser bênção a todas as famílias da terra” (Gn 12.3).

“Israel”, depois, se tornou o nome do povo todo. Que encarna essa missão, por isso pode também ser chamado de Israel. Aqui temos algo como dois níveis superpostos. São o mesmo, mas também não são o mesmo. Israel pode ser Israel, mas pode também não ser. “Teu nome é Transgressor, já desde o ventre materno”, diz Deus a Israel (Is 48.8). Mas Israel pode também decidir ser Israel. Essa esperança perpassa os textos bíblicos.

Israel é o nome coletivo da humanidade em função da qual Deus chamou Abraão, e começou com ele um processo pedagógico que deveria resultar em bênção a toda a humanidade. “Israel” é o nome do povo ao qual Deus confia uma missão, a missão de ser o Seu servo para levar a bênção a Israel, como no coração de Deus é chamada a humanidade.

E me disse: Tu és o meu Servo, Israel. Em ti serei glorificado. Quando “Israel” assume ser Israel, o “servo” de Deus nesse mundo, o meu Servo, o resultado é nada menos que glória. Deus glorificado em pessoas, num povo, na humanidade. Para “Israel”, isso é sempre de novo uma decisão. Pois Israel pode decidir ser outra coisa. As constantes advertências sobre os ídolos, o mostram. Que Deus possa dizer a Israel: Tu és o meu servo. Em ti sou glorificado, é uma esperança que anima e move a narrativa bíblica.

Dia 107 – Ano 2