Êxodo 38 — 39

Êxodo 38 — 39

A descrição de como a Tenda foi feita exatamente como Deus tinha mandado fazer, prossegue. Ela se estende ao espaço externo da Tenda: o altar dos holocaustos (Êxodo 38.1-7), onde se faziam os sacrifícios pelos pecados; a bacia de bronze (38.8), onde os sacerdotes se lavavam; e o pátio (38.9-20), onde ficavam as pessoas. Terminada a descrição, é feito um inventário do material usado na construção (38.21-31). Por fim é relatado como foram feitas as vestes dos sacerdotes (39.1-31).

O relato segue em frente quase sem respirar, tal é o suspense: será que tudo seria feito conforme a instrução divina? Quando vem o inventário do material (38.21-31), se constata: “Fez … tudo que o Senhor tinha dito a Moisés” (38.22). No capítulo seguinte, esta constatação é repetida, alegremente, sete vezes (39.1,5,7,21,26,29,31). As sete declarações de que tudo tinha sido feito conforme a orientação divina, remetem ao relato da criação em sete dias. O relato todo (Êxodo 36-39) termina com uma recapitulação solene (39.32-43) de tudo que tinha sido feito. Este sumário final se espelha no relato da criação. 

A estrutura da Tenda, como um todo, lembra a criação em um aspecto importante: ela espelha a constituição do ser humano, imagem de Deus. O pátio externo representa o mundo corporal, “concreto”. O mais interior, o Santíssimo, representa o espírito humano, onde Deus habita e de onde Ele quer nos guiar e abençoar. O Lugar Santo, entre os dois, representa a alma, a estrutura psíquica do ser humano, voltada de um lado para Deus e de outro lado para a comunidade humana. Assim a Tenda dá testemunho da Presença divina no mundo espelhando Sua Presença no ser humano. Mundo dividido, ser humano dividido, mas com a promessa de re-integração sinalizada por essa Presença divina. 

A Tenda inaugura a nova criação. Nela se expressa a reconciliação que Deus estenderá a todo o universo. O começo dessa recapitulação (39.32, “Assim se concluiu toda a obra da Tenda…”) lembra Gênesis 2.1, que sumaria o relato da criação. O fim dessa recapitulação (39.42-43) também usa uma linguagem que compara a construção da Tenda com a criação do mundo. O v.42 diz “…e assim fizeram os filhos de Israel toda a obra”. E o v.43: “Viu Moisés toda a obra … e Moisés os abençoou”.

Dia 90 – Ano 1

Gênesis 48 — 49

Gênesis 48 — 49

Gênesis 48 e 49 nos colocam ao lado do leito de morte de Jacó, que determina que os filhos o enterrem no terreno da família em Canaã, junto aos seus antepassados (49.29-32). O tema que perpassa estes dois capítulos é a bênção. Bênção entre pessoas, mediação da bênção divina às pessoas.

A bênção de Jacó é solene, com aquela mística que dá a impressão de que ele já está numa franja entre o aqui e o além. Assim era visto antigamente o ancião que Deus tinha abençoado, em seu leito de morte. Sua bênção carrega tanto a visão como a energia do mundo vindouro, por isso lhe davam tanta importância (como no exemplo da disputada bênção de Isaque, Gênesis 27).

Jacó adota como seus os dois filhos de José (48.5-22). Isso significa que José é privilegiado com uma dupla herança. Ao abençoá-los, Jacó inverte a ordem normal. E assim de novo o filho mais novo vem antes do mais velho, como tinha sido com o próprio Jacó e também com Isaque.

O capítulo 49 traz a bênção de Jacó a todos os seus 12 filhos (diferente de Isaque, que abençoaria só a um). Presente, passado e futuro se misturam numa bênção que é, ao mesmo tempo, profecia. Dois dos filhos são distinguidos: José (49.22-26; “o que foi distinguido entre os irmãos”) e Judá. Rúben, o primogênito, vem primeiro na lista (49.3-4), mas tem contra ele um feito lamentável, que tinha sido relatado brevemente em 35.22. O mesmo ocorre com Simeão e Levi, mencionados juntos (49.5-7) porque juntos haviam perpetrado o genocídio em Siquém, de que fala Gênesis 34.25-31. A bênção do primogênito é reservada a Judá (49.8-12). Lida à luz da sequência da narrativa bíblica, ela parece conter referências tanto ao futuro reino de Judá como a uma promessa messiânica.

Dia 54 – Ano 1

Gênesis 35

Gênesis 35

O resultado do genocídio perpetrado por filhos de Israel (Jacó) foi desastroso. Como Jacó havia predito (Gênesis 34.30), os demais nativos da região se ajuntariam contra ele e sua família e os exterminariam. E lá vai o herdeiro da promessa, fugindo de novo. A situação era tão crítica que o próprio Deus interveio diretamente. Primeiro Ele fala com Jacó (35.1) e lhe dá instruções para que saia dali. Depois algum tipo de manifestação divina aconteceu, que impediu os povos da região de perseguir a família de Jacó enquanto ela fugia (35.5).

No processo, Jacó e família se livram de todos os ídolos e artefatos que podiam ter ligação com o culto a outros deuses (35.2-4). Pode parecer estranho que até ali eles ainda tivessem coisas desse tipo em casa, mas até este ponto isso parecia normal (cf. Gênesis 31.19-35).

Gênesis 35.9-15 relata o completamento de um ciclo que tinha começado em Gênesis 28, quando Jacó fugiu para o leste (Padã-Arã) e Deus lhe apareceu para assegurá-lo de Sua presença e cuidado. Deus lhe aparece de novo e lhe renova a Sua bênção, confirmando a mudança de nome de Jacó para Israel (Gênesis 35.10-11). O lugar dos dois encontros é o mesmo: Betel, a “casa de Deus” (35.15; cf. Gênesis 28.19).

O relato da morte de Raquel começa a encaminhar, no Livro de Gênesis, o final da “história da descendência de Isaque”, que acabou se concentrando mais em Jacó. Gênesis 35.27 resume toda essa história até aí: Jacó se reencontra com Isaque, no lugar em que este e Abraão tinham peregrinado. E 35.28-29 relata do final feliz da vida de Isaque, um homem que ficou mais na penumbra, mas que com isso permitiu que Deus cumprisse Seus planos. Seus dois filhos, juntos, estão com ele em sua morte e o sepultam no terreno palestinense da família.

Dia 41 – Ano 1

Gênesis 34

Gênesis 34

Deus manteve Sua promessa a Jacó, de acompanhá-lo em sua jornada e trazê-lo de volta. E cá está ele, de volta à terra prometida e com um bando de filhos. Só faltava ainda “ser uma bênção a todas as famílias da terra”, para que se cumprissem as três partes da promessa de Deus a Abraão (Gênesis 12.1-3). 

O trecho de hoje nos conta uma história que tem a ver com esta terceira parte da promessa. Só que, em vez de ser bênção às famílias da terra, Jacó e seus filhos perpetram um genocídio. Tudo começou quando Diná, filha de Jacó e Lia (Gênesis 30.21) foi dar um passeio e interagir com os nativos, e Siquém, um dos príncipes da região, abusou dela. E acabou perdidamente apaixonado.

A narrativa vai alternando entre o que acontece nas duas famílias, a de Hamor, pai de Siquém, e a de Jacó, pai de Diná. Na casa de Siquém, começa a movimentação para pedir Diná em casamento. Na casa de Diná, uma fúria indignada se instala (34.7). No primeiro encontro (34.8-18), os nativos se mostram sinceros e os filhos de Jacó, mentirosos e dissimuladores (34.13). Os filhos de Jacó exigem que os homens da casa de Hamor se circuncidem. Durante a convalescença deles (34.25), dois filhos de Jacó e Lia (Simeão e Levi) invadem a cidade e matam os homens a sangue frio. A justificativa dos rapazes era “sua honra” (34.31).

Esta triste história mostra, primeiro, que não foi por serem bonzinhos que a família escolhida foi escolhida. Segundo, que o propósito divino de educar uma família para, através dela, abençoar as outras, teria ainda um longo caminho pela frente.

Dia 40 – Ano 1

Gênesis 30.25 – 31.55

Gênesis 30.25 – 31.55

O trecho de hoje continua as movimentações iniciadas no trecho anterior. Por que tanta atenção à família que Jacó vai constituindo? Cada novo filho é anunciado solenemente. O jogo de intrigas envolvido não é o foco maior da narrativa. O foco é: Jacó está tendo filhos. Deus está cumprindo a promessa! Longe da terra prometida, pelo menos filhos não faltam.

Agora, porém, um próximo passo está para ser dado. Jacó decide voltar para a “sua” terra (Gênesis 30.25). Um jeito sutil de mostrar que Deus havia trabalhado também no coração de Jacó estes anos todos. No exílio, ele havia aprendido a amar sua terra, que agora ele sabia e assumia que era “sua”. A terra da promessa. No tempo certo, cresce dentro dele o desejo e a decisão: é hora de voltar para lá.

Mas aí começam a aparecer obstáculos. O primo Labão vem com uma proposta tentadora (30.27-36). Começa uma enrolação que não é descrita de imediato, mas que aparece nas rememorações do capítulo seguinte (por exemplo, 31.4-13, onde Jacó conta para as suas mulheres o que acontecia nestes anos; e 31.36-42, onde Jacó se irrita com Labão e faz um desabafo sobre o jeito como ele se sentiu tratado nestes anos). Nesse meio tempo,  Deus concede a Jacó a riqueza que mais tarde lhe será necessária. O fato de o texto relatar a astúcia que Jacó continua usando no trato com algumas pessoas, não impede o narrador de ver ali a bênção e a orientação divina (31.11-13,42).

Enfim Jacó foge (31.21). (Mais uma vez!). Labão o persegue, mas tudo acaba bem. Labão volta para casa, deixando Jacó e família irem embora. E mais: com sua bênção (31.55).

Dia 38 – Ano 1

Gênesis 9

Gênesis 9

Depois de decidir cuidar da criação mesmo que o ser humano não ajude, Deus abençoa a família humana (9.1-4). Este trecho lembra Gênesis 1.28-30. A bênção é prática e concreta. Lá no capítulo 1, o ser humano comeria plantas e frutas. Aqui ele é autorizado a comer também  carne. O sangue é sagrado na Bíblia: nele está a alma, a vida (9.4). O sangue humano é sagrado porque o ser humano é imagem de Deus (9.5-6).

O restante do capítulo 9 trata de um tema central na Bíblia: aliança, pacto. São iniciativas de Deus em favor de Sua criação. Neste pacto com Noé, Deus se compromete unilateralmente a cuidar da vida no planeta, para que a maldade humana não a destrua. A primeira aliança de Deus, sua primeira e maior preocupação, é com a humanidade toda e com a criação inteira. É importante lembrar isso. O sinal externo desta primeira aliança é o arco-íris que, depois de chuva forte, aparece quando o sol sai de novo, como aconteceu no dilúvio. Ao ver o arco-íris, Deus lembra a Si próprio do pacto que fez com a Sua criação. E nós, o que vemos quando vemos um arco-íris?

A pequena história de 9.18-29 termina a “história da descendência de Noé”, começada em 6.9. E ao mesmo tempo liga esta história com o que vem a partir do capítulo 10, onde vai se começar a falar dos povos da terra. Os filhos de Noé estão na origem dos diferentes povos, diz o texto. Esta pequena história ilustra o que o texto bíblico constata sempre de novo: as pulsões do coração humano são más, desde a infância. Nesta história, um dos jovens envolvidos não resiste a elas, e fere a dignidade do pai (9.22). Os outros dois resistem e preservam/devolvem a dignidade ao pai (9.23).

Dia 18 – Ano 1