Gênesis 3.20-24

Gênesis 3.20-24

O ser humano revela a suscetibilidade de desejar ser “igual a Deus”: dono do Jardim, submetendo-o aos seus propósitos e não aos de Deus. A distância do Criador que com isso se cria é dolorosamente expressa em Gênesis 3.8-9. O ser humano agora se esconde da presença de Deus, que mesmo sabendo disso continua a procurá-lo: “Onde estás?”

Gênesis 3.22 mostra o Criador em diálogo com os seres espirituais à sua volta. “O ser humano se tornou como um de nós, conhecedor do bem e do mal”, constata. Para impedir que os humanos se perpetuassem nessa condição e submetessem o Jardim aos seus propósitos agora revelados como potencialmente distintos dos do Criador, eles são mandados embora. O Jardim do Éden agora lhes fica inacessível, fortemente protegido.

O texto bíblico mostra claramente as consequências do gesto humano de ultrapassar o limite divino. Elas atingem a própria constituição do ser humano. A corporalidade transparente agora lhes causa vergonha, porque nada esconde. Mas agora, subitamente, os humanos querem se esconder. Dos outros, de Deus, de si próprios. Assim, num gesto de solidariedade, o Criador lhes reveste a corporalidade luminosa com uma nova. “E o Senhor Deus fez para o homem e sua mulher mantos de pele, e o revestiu” (Gênesis 3.21). “Mantos de pele” é cotnôt ôr, que faz um jogo de palavras entre “pele” e “luz”. A luz própria da corporalidade humana é revestida de “pele”, que significa aqui o corpo químico-físico carnal que temos hoje, apropriado para a existência fora do Jardim, “ao leste do Éden”, que os humanos terão na narrativa bíblica a partir de agora.

Dia 12 – Ano 1

Gênesis 2.8-20

Gênesis 2.8-20

Depois de criar o ser humano, Deus prepara a sua morada, um jardim com todo tipo de árvores. Duas chamam a atenção: a árvore da vida e a do conhecimento do bem e do mal (Gênesis 2.9). No jardim nasce um rio, que se abre em quatro e rega a terra toda (2.10-14). O ser humano tem a função de trabalhar e guardar o jardim (2.15), como representante do Criador. Para nunca esquecer que é representante de Deus, e não dono do jardim, Deus deixa uma determinação: o ser humano pode comer de tudo, só não da árvore do conhecimento do bem e do mal. Isso lhe traria a morte (2.16-17). Essa função de cuidadores do paraíso se estende a todos os humanos, até nós hoje. E também a responsabilidade de ser cuidadores e não querer ser donos do jardim.

Percebendo que estar só não era bom para o ser humano, Deus cria animais e aves para estarem ao seu lado (2.18-20). A expressão hebraica êzer qenegdô (2.18) significa “alguém para ajudar e estar ao lado”. Não envolve nenhum tipo de subordinação. Talvez a palavra que melhor traduza essa expressão seja “ser parceiro”, que envolve tanto partilha de tarefas como convivência. A mesma expressão é usada em Gênesis 2.20 para se referir ao parceiro ou à parceira que Deus vai criar, ao constatar que entre os animais criados não se achava um parceiro ideal. 

Essa vinculação entre o ser humano e os animais é importante. Quando o profeta (Isaías 11.6-9) fala da convivência mútua entre humanos e animais na era vindoura, temos aí uma boa descrição de como Deus pensou a sociedade do Éden. 

Dia 7 – Ano 1