Êxodo 1

Êxodo 1

O Livro de Êxodo começa fazendo ligações diretas com o Livro de Gênesis. Êxodo 1.1-5 repete a lista dos descendentes de Jacó/Israel que recomeçaram sua vida no Egito, por ocasião daquela grande fome em que foram obrigados a emigrar para lá. Aí vem uma pequena nota que encerra aquele período da história e ao mesmo tempo faz a transição para um novo período, séculos depois, onde vão acontecer as coisas relatadas no Livro de Êxodo. Primeiro se menciona a morte de José e de todos os seus irmãos, de toda aquela geração (1.6). Depois, que os filhos de Israel se multiplicaram grandemente durante aqueles séculos, “enchendo a terra”, demonstrando assim a bênção do Criador sobre a humanidade, e também que Sua promessa a Abraão continuava se cumprindo, mesmo longe da terra prometida. Os israelitas estavam tendo descendentes, e tinham sido uma bênção para os povos através do governo sábio de José no Egito.

Séculos depois, a conjuntura havia mudado no Egito. Toda aquela história agora era passado distante. Os israelitas (a partir de agora quase sempre chamados de “os filhos de Israel”), agora um grande povo, começaram a ser vistos como ameaça aos egípcios. Estes, então, os transformaram em escravos (Êxodo 1.14). Mas isso não impediu os israelitas de continuarem se multiplicando (1.12). A solução, então, foi extrema: mandar matar, durante o parto, os filhos homens (1.15-16). Não funcionou. Deus interveio. O Deus do qual, àquela altura, os próprios israelitas tinham só uma memória distante. Mas o importante é que Ele não os havia esquecido! Como último recurso, o faraó baixou decreto exigindo de todo egípcio que soubesse do nascimento de um menino entre os hebreus, que o atirasse imediatamente ao rio Nilo (1.22).

O Livro de Êxodo começa, assim, descrevendo como a promessa divina estava sendo ameaçada. Israel não morava na terra prometida, não era mais bênção para os povos, e sua própria existência futura estava ameaçada.

Dia 56 – Ano 1

Gênesis 46

Gênesis 46

O trecho de hoje inicia com uma importante encruzilhada na narrativa de Gênesis. “Partiu, pois, Israel” (Gênesis 46.1). Dessa vez, não para o leste mas para o sudoeste, para o Egito. Muito tempo antes, Abrão tinha sido forçado a fazer o mesmo caminho, também por falta de comida na terra prometida (cf. Gênesis 12.10). No caso de Isaque, Deus lhe tinha aparecido e dito que não descesse ao Egito (26.1-2). Agora chega a vez de Jacó.

Nesses momentos, Deus costuma intervir de um jeito forte. É o futuro da promessa que está em jogo. Em “visões da noite” (Gênesis 46.2; cf. 28.10-12), Deus assegura o patriarca de que não precisa ter medo de descer ao Egito; que lá Deus fará dele uma grande nação, e que no momento certo o fará subir de volta à terra prometida (46.2-4).

Nessa encruzilhada importante, também aparece a lista com os nomes dos que fizeram a jornada (46.8-27). No contexto da promessa ameaçada, esta lista quer realçar o cumprimento dos outros itens da promessa. A família escolhida chegava agora a 70 pessoas! (o número 70, na Bíblia, transmite uma noção de grande quantidade). A primeira lista da descendência de Jacó (Gênesis 35.23-26) trazia só o nome dos filhos. De Judá (Gênesis 38) e de José (Gênesis 41.50-52), o texto já havia mencionado os nomes dos filhos. Agora vemos que os outros irmãos também tinham feito a família crescer. A lista termina com os filhos de José, nascidos no Egito (Gênesis 46.27). A família escolhida começa a se estender aos povos, para levar a eles a bênção.

Dia 52 – Ano 1

Gênesis 27

Gênesis 27

Gênesis 27 apresenta uma trama complexa. Coloquemo-nos no lugar de Esaú. Sua vitalidade natural levava seu pai a considerá-lo o herdeiro natural (além do fato de o ser por direito). No entendimento de Esaú, Jacó tinha se aproveitado dele e lhe tomado este direito (27.36). E agora lhe tomava também a bênção. O papel de Isaque é um tanto indefinido. Ele devia saber do acontecido entre os irmãos. Ele e Rebeca se incomodavam com as mulheres cananitas de Esaú (26.34-35), um tema importante neste contexto (27.46). Mas Isaque, apesar de tudo, decide dar a bênção a Esaú. 

Aqui se mostra a força feminina neste mundo patriarcal. Rebeca vai à luta para garantir o futuro que ela considera o melhor para a família. Leva também em conta a palavra divina de que o mais moço seria o escolhido (25.23). Jacó tem um momento de hesitação (27.11-12), mas, orientado pela mãe, vai em frente e executa o plano que, no seu entender, apenas lhe assegura um direito que ele já havia conquistado. No fim, Isaque acaba aceitando o jeito como tudo se deu, e reconhece que Deus, na Sua soberania, havia escolhido Jacó (28.3-4).

A crise familiar leva a uma situação tal que um dos irmãos odeia o outro e já tinha decidido matá-lo (27.41). Mais uma vez a mãe toma a iniciativa (27.41-45), e convence o pai (27.46), que concorda em proteger o filho ameaçado, mandando-o para os parentes longínquos. Vimos em Gênesis 24 como Abraão fez de tudo para que Isaque não fosse de volta para lá. A promessa divina se referia à terra de Canaã. Agora o herdeiro da promessa está para deixá-la e ir de volta para a  terra de seus antepassados.

Dia 35 – Ano 1

Gênesis 22 — 23

Gênesis 22 — 23

Um furacão interrompe, subitamente, o sossego de Abraão. No capítulo anterior ele havia “perdido” seu filho Ismael. Agora, uma coisa absolutamente sem explicação acontece. Deus pede a Abraão, em sacrifício, o filho que havia restado, Isaque (v.2: “teu filho, teu único filho”).

Difícil imaginar o que foi o resto daquela noite para Abraão. De manhã ele levanta, arruma tudo “e vai” (v.3), caminho de três dias. Três longos dias, em que Abraão deve ter morrido cem vezes. No fim de uma vida que ele dedicou ao chamado e à promessa divina, tudo se reduz a nada. Sem Isaque, tudo acaba. Entre entender e obedecer, ele obedece. No último momento, Deus intervém e salva o menino, e congratula Abraão. Aí se esclarece que se tratava de colocar a fé de Abraão à prova (v.1), para ver se ela era um lastro suficientemente forte para tudo que Deus queria construir em cima. Nos v.17-18, Deus renova a bênção a Abraão.

Depois deste episódio, Abraão recebe notícias (22.20-24) de que também seus familiares foram agraciados por Deus com descendentes. Esta pequena nota já vai preparando caminho para histórias que vêm a seguir, em que o filho e depois o neto de Abraão, retomam os laços com sua família de origem.

Gênesis 23 nos fala da morte de Sara e da negociação para a compra de um lote de terra para enterrá-la. Sua importância na narrativa do Gênesis é que este pequeno lote é tudo que Abraão possui, ao fim de sua vida, da terra que Deus lhe prometera. Quase nada, em comparação com o tamanho do que fora prometido. Mas já alguma coisa, um chão firme para fortalecer a fé.

Dia 31 – Ano 1

Gênesis 16

Gênesis 16

Apesar das promessas, os problemas continuam. “Sarai, mulher de Abrão, não lhe dava filhos” (16.1). Uma vez que Deus estava demorando, a própria Sarai resolveu tomar a iniciativa. Naquela época, o filho de uma escrava podia ser assumido legalmente como filho da patroa. Assim, Sarai cede sua serva Hagar a Abrão, para ter um filho através dela. Hagar engravida, e isso deixa as relações entre as duas muito tensas. A ponto de Hagar fugir (v.6). Um anjo de Deus a encontra, e a convence a mudar de ideia e voltar para a casa de sua senhora (v.7-9). O filho de Hagar, disse o anjo, viveria e teria muitos descendentes (v.10).

O nascimento do menino, Ismael, é registrado com poucas palavras, mas com uma entonação que deixa claro que aquele ainda não era o fim da história, e que na verdade nem era o jeito de Deus realizar sua promessa a Abrão. Ismael é “o filho que lhe dera Hagar” (v.15), com uma insinuação de que este não era o filho prometido.

Essa história ilustra como a relação entre os propósitos de Deus e os nossos nem sempre são isentas de problemas. Às vezes vacilamos em nossa fé, em nossa confiança de que Deus faz tudo muito bem, e que “há um tempo para todo propósito debaixo do céu” (Eclesiastes 3.1). E aí fazemos as coisas do nosso jeito. E acabamos criando problemas que mais tarde podem gerar mais problemas. Abrão já tinha podido ver isso naquela temporada no Egito (Gênesis 12.10-20). A referência à idade de Abrão em 16.16 (“tinha 86 anos”) poderia sugerir que de fato, do ponto de vista humano, já era tempo de que a promessa divina se cumprisse.

Dia 25 – Ano 1

Gênesis 15

Gênesis 15

Uma questão que incomodava muito Abrão é que Sarai, sua mulher, não podia ter filhos (cf. Gênesis 11.30). Abrão reclama abertamente de Deus. Justificadamente, pois ter filhos tinha sido parte da promessa de Deus  (Gênesis 12.2). Agora ele estava ficando velho, e nada. Deus sente que é hora de intervir, e chama Abrão para uma conversa. Deus lhe assegura que ele há de ter muitos filhos (15.4-5). A reação de Abrão é registrada em poucas palavras, que dizem tudo: ele “creu, confiou no Senhor” (15.6). Vendo a reação de Abrão, Deus reforça mais uma vez a promessa (15.7). Pede a ele que prepare um sacrifício (15.9-10). Ao anoitecer, Abrão cai num sono profundo (v.12). São momentos em que Deus pode falar direto na alma (v.13-16). Na visão do sonho, Deus lhe dá um sinal, uma tocha de fogo passando pelo meio das partes do sacrifício (v.17).

Naquele dia, Deus fez um pacto, uma aliança, com Abrão (Gênesis 15.18), como tempos atrás Ele havia feito com Noé (Gênesis 9.8-17). A aliança com Noé se estende a toda a humanidade e toda a terra. A aliança com Abrão se estende a uma parte da humanidade e a uma parte da terra. 

Entender a relação entre estes dois pactos é muito importante para compreendermos os rumos da narrativa bíblica. O propósito da aliança mais restrita (a de Abrão) não é substituir a aliança mais ampla (a de Noé), mas justamente assegurar sua realização. Através deste pequeno povo, nesta pequena terra, Deus abençoará toda a humanidade, como Ele tinha dito a Abrão (Gênesis 12.3).

Dia 24 – Ano 1

Gênesis 12

Gênesis 12

Em Harã, depois da morte de Terá, Deus fala com Abrão e diz para ele seguir a viagem  interrompida. Gênesis 12.1-3 está entre os textos mais importantes da Bíblia. Neles Deus promete três coisas a Abrão: um lote de terra, filhos e um papel importante na história espiritual da humanidade (ser uma bênção para todas as famílias da terra). Em certo sentido, toda a narrativa bíblica gira em torno desta promessa e de seu cumprimento.

Nesse ponto da narrativa bíblica estamos diante de uma importante encruzilhada. A promessa de Deus pode ser interpretada como exclusiva: se aplica a Abrão e exclui os outros. Ou pode ser interpretada como representativa: Abrão é chamado para assegurar que no futuro todos tenham acesso à promessa. A falta de clareza nesse ponto tem levado sempre de novo o povo de Deus a excluir outros, não percebendo que o povo de Deus é chamado como representante da humanidade, para garantir que a humanidade toda venha a ser herdeira da promessa.

O capítulo 12 está dividido em duas partes. Na primeira parte (12.1-9), há uma constante interação entre Abrão e Deus. Na segunda (12.10-20) Abrão age sozinho. Desce ao Egito com sua mulher, arquiteta um plano para não ser morto. Mesmo que para isso tenha que abrir mão da mulher, que ele apresenta como sua irmã. A única referência a Deus nessa pequena história é quando Ele sai em defesa de Abrão, apesar de tudo (v.17). Ou seja, Deus tem que remendar o estrago feito pelo Seu escolhido. E assim vai ser muitas vezes, na narrativa bíblica. E também em nossa vida.

Dia 21 – Ano 1