Isaías 24.1-3

Isaías 24.1-3

Com Isaías 23 terminaram as “palavras pesadas” relacionadas aos povos e às nações. E no entanto Isaías 24 se apresenta como sequência, sem qualquer interrupção, em termos da construção do texto. Aprender a ler bem os textos bíblicos envolve também prestar atenção nesses aspectos. “Vejam!” (Isaías 24.1). O profeta quer nos chamar a atenção agora para consequências e implicações das palavras aos povos. Nestas a perspectiva de fundo é global, mas o foco vai mudando de um lugar para outro. Agora a profecia assume um foco explicitamente global.

“Vejam! O Senhor esvazia a terra” (Isaías 24.1). Deus é o sujeito explícito. A terra é o objeto. Entre as duas palavras, um verbo de ação. Esse esquema sintetiza ao máximo a estrutura das profecias que seguem. Os muitos detalhes, alguns nem tão claros, não deveriam nos fazer perder de vista esse movimento fundamental. Deus em ação no Seu mundo.

A superfície da terra é arrasada. A população é dispersada. E isso atinge a todos, sem distinção (24.2). Chama a atenção a predominância das relações econômicas na lista. Seis eixos sociais são enumerados, em cada um aparecem dois grupos que representam extremos dentro de cada setor da sociedade. Só o primeiro tem caráter geral, “como o povo, também o sacerdote”. Escravo, escrava, vem depois, com suas antípodas (patrão, patroa). Depois vem comprador (e vendedor), e duas categorias do sistema financeiro, relacionadas ao trato com o dinheiro: empréstimos e créditos. Por que esse foco, quando o tema é a terra devastada e despopulada? Até assusta um pouco pensar que “povo” e “sacerdote”, o primeiro eixo, pudessem significar que a sociedade inteira, incluindo a religião, foi envolvida nas consequências nefastas da ciranda financeira, a mesma que causa a destruição de Tiro, a cidade símbolo do poder global (Isaías 23.17).

“A terra foi completamente esvaziada, foi completamente espoliada”, diz o profeta (24.3), retomando o verbo principal de 24.1 (“esvaziar”) e acrescentando outro que fica claro agora o porquê (“espoliar”). Parece que o que vemos aqui é o resultado final da prostituição de Tiro “com todos os reinos da terra” (23.17). A terra foi deixada vazia porque o que nela havia foi desapropriado, foi roubado. O povo, espoliado, ou foi dizimado ou teve que buscar outras plagas (onde?). O cenário causa alarme. Mas esse é o propósito da palavra profética. Bem como mostrar que, por mais que os protagonistas achem que tudo se deve à sua engenhosidade (como foi o caso com os israelitas, os assírios, os babilônios, etc., etc.), no fim eles mesmos acabam sendo vítimas de suas tramas e ambições. E mostrar que, por mais que nos seja difícil compreender isso, Deus está por trás de tudo (“essa palavra é palavra do Senhor” (24.3).

Dia 43 – Ano 2